Quantos mortos há na guerra na Ucrânia?
Vejo uma notícia da BBC News datada de 21 de Abril: uma análise promovida pelo media estatal britânico em colaboração com um site em língua russa e inglesa chamado Mediazona (descrito pela BBC como “independente”), que incluiu a contagem de campas em cemitérios feita por voluntários no terreno, estima que as mortes de tropas russas em combate, desde o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, ultrapassam os 54 mil militares.
A notícia da BBC escreve que provavelmente o número real é muito maior (o Mediazona atira mesmo a possibilidade de serem mais de 85 mil) e no 11.º parágrafo da notícia recorda-se que, do lado da Ucrânia, o presidente Vladimir Zelensky declarou em fevereiro que nessa altura se contabilizavam 31 mil militares ucranianos mortos mas que, e cito, “estimativas, baseadas em dados de inteligência dos EUA, sugerem perdas maiores”.
A pergunta que fiz ao Google sobre as baixas no conflito na Ucrânia tinha-me dado apontadores para inúmeros sites de informação que não conheço, ao contrário da BBC. Experimento um dos primeiros, brasileiro, chamado Poder 360.
Ali vejo uma notícia de 24 de fevereiro deste ano, dois meses antes da notícia da BBC, que cita uma informação, então com três dias, das Forças Armadas ucranianas que afirma que os russos “perderam” 406.080 soldados, não distinguindo entre mortos e feridos.
A mesma notícia dá conta, depois, do que diz o lado russo: a informação mais recente datava de dezembro de 2023 e apontava para 383 mil baixas nas tropas ucranianas.
A mesma notícia cita depois a agência de informação Reuters que calculou o número de mortos russos em 315 mil e uma reportagem do New York Times, de agosto de 2023, que apontava para os 300 mil. Sobre as baixas ucranianas, nada.
Na mesma busca do Google seguem-se uma notícia da CNN Brasil, de 18 de julho do ano passado, que cita o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que declara a morte nessa guerra de 9287 civis e 161 mil feridos.
Segue-se a Euronews. Aqui, num balanço a dois anos de guerra, contam-se 6,4 milhões de refugiados e que, num relatório desclassificado dos serviços secretos norte-americanos, se somavam 315.000 soldados feridos ou mortos do lado russo.
A mesma notícia recorda que o New York Times revelara, em agosto de 2023, que 70.000 soldados ucranianos tinham sido mortos e entre 100.000 e 120.000 feridos, com base em estimativas norte-americanas. As perdas russas seriam mais elevadas: 120.000 soldados russos teriam morrido entre o início da guerra e agosto de 2023 e entre 170.000 e 180.000 teriam ficado feridos.
Desisto. Não vai ser pela consulta da internet que poderei vir a ter uma noção da verdade sobre o que se passa na Guerra da Ucrânia - a carnificina que lá acontece é tratada, quer no lado russo, quer no lado ucraniano, ao nível do segredo de Estado e os países membros da NATO seguem a mesma política, boicotando qualquer viabilidade de acompanhamento verdadeiramente independente dessa realidade.
Este boicote informativo sobre um conflito que escalou para o perigo nuclear eminente, credibilizado por uma comunicação social sem capacidade (e, muitas vezes, militantemente sem vontade) de furar esse bloqueio informativo narcotizou a visão da opinião pública portuguesa, europeia e ocidental sobre essa guerra que tem potencial para nos atirar para uma destruição quase total.
Compare-se o nível de pressão feita por largos setores da opinião pública ocidental sobre os seus governantes no caso do genocídio dos palestinianos em Gaza - em parte decorrente do trabalho de muitos corajosos jornalistas que têm divulgado, de forma independente e credível, as imagens, os factos e as mortes, do que ali se passa desde o ataque terroristas do Hamas em 7 de outubro - com o comportamento dessa mesma opinião pública, claramente desinformada sobre o conflito na Ucrânia - viu-se, nesta campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, como este caminho para o suicídio europeu, parece coisa indiscutível e secundária.
Não seria tudo muito diferente se a verdade acerca da mortandade na Ucrânia fosse sendo revelada?