Quantas vezes vemos um filme repetido?
O antigo primeiro-ministro António Costa governava quando ocorreu uma enorme tragédia com incêndios. Todos sabemos que nesse ano de 2017, somando os incêndios em Pedrógão Grande, Oliveira do Hospital, Tábua, Arganil e outros, contaram-se 116 mortes.
Com o país em estado de choque, o então primeiro-ministro António Costa, apoiado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, prometeu uma verdadeira revolução na gestão florestal para a tornar mais resistente aos fogos; anunciou a obrigatoriedade dos proprietários rurais cortarem, todos os anos em maio, o mato que estivesse próximo de habitações; criou operações de limpeza e de abertura de faixas de contenção no meio do arvoredo; prometeu um grande recenseamento dos terrenos para se saber quem era dono do quê e para planear emparcelamentos que facilitassem a conservação dessas áreas; modificou o funcionamento da Proteção Civil e a sua ligação aos bombeiros criando uma entidade especializada no combate a fogos rurais; garantiu, na União Europeia, o apoio de reforços aéreos de combate a incêndios sempre que fosse preciso; lançou não sei quantas campanhas de sensibilização e vários sistemas de avisos das populações sobre incêndios, que foram da publicidade institucional às mensagens telefónicas que nos perturbam os telemóveis.
Tivemos, depois desses e de outros anúncios, seis anos de relativo sossego florestal.
Sete anos depois vejo na televisão o atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, apoiado pelo Presidente da República, o mesmo Marcelo Rebelo de Sousa de 2017, consternados com as, até agora, sete mortes provocadas pelos incêndios dos últimos dias.
Anunciou-se uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros, com Marcelo a presidir, que decorre à hora que escrevo, para analisar a calamidade deste ano e preparar novas medidas. Umas, suponho, para acudir a quem está aflito pela destruição causada, outras, aposto, para melhorar mais uma vez a prevenção e o combate em situações futuras - talvez até se venha a anunciar a demissão de um qualquer quadro superior do Estado, como, sempre que há problemas, tem sido habitual neste Governo.
A questão é esta: daqui a uns anos estarei a escrever novamente um artigo semelhante a este?
Estarei a listar as promessas e ações, no terreno e na lei, implementadas por este Governo, tal como fez o Governo anterior e outros antes deles?
Concluirei que, na prática, elas ou não funcionaram, ou não foram aplicadas ou não atacaram o problema dos incêndios florestais com uma capacidade de resposta suficiente para, pelo menos, evitar mortes e destruição de grandes quantidades de bens imóveis?
Estou convencido de que sim, daqui a uns tempos estaremos todos a ver a repetição deste filme. Porquê? Porque paliativos não curam doenças e a nossa floresta está doente há muito tempo.
O facto é este: ninguém tem coragem, força, vontade, imaginação e dinheiro para aplicar a verdadeira cura que, há décadas, os especialistas ambientais e florestais quase unanimemente receitaram - policultura florestal e recolha massiva, anual, de materiais lenhosos. E, por isso, o filme repete-se.