As crianças são o melhor que o mundo tem, ouvimos dizer muitas vezes. Mas será que estamos a conseguir proteger, efetivamente, o melhor do nosso mundo? Penso que não..As estatísticas dizem-nos que a incidência da violência sobre as crianças tem aumentado ao longo dos anos. Falemos de negligência, maus tratos físicos, maus tratos emocionais, abuso sexual ou violência doméstica. A violência entre pares - portanto, cometida por jovens - tem também vindo a aumentar de uma forma preocupante. Aqui, identificam-se sobretudo situações de bullying e cyberbullying, agressão sexual e violência no namoro..u seja, jovens que cometem atos qualificados como crime e que, sem a devida intervenção especializada, correm o risco de seguir uma trajetória de desenvolvimento desajustado e pautado por comportamentos desviantes, que tendem a cristalizar-se ao longo do tempo..A infância corresponde a uma fase do desenvolvimento de especial suscetibilidade, pela imaturidade cognitiva, emocional, social e moral. As crianças são, assim, mais vulneráveis ao impacto negativo das experiências potencialmente traumáticas que vivenciam - impacto este que, como sabemos, se manifesta a curto, médio e longo prazo, podendo mesmo perdurar durante toda a sua vida..Identificados que estão já os fatores de risco e de proteção em relação às diversas formas de violência, e conhecendo os dados de incidência que, todos os anos, apresentam uma tendência assustadoramente crescente, que políticas têm sido desenvolvidas em Portugal?.É verdade que temos feito um percurso positivo ao longo das últimas décadas, mas que se revela ainda muito insuficiente..Precisamos conhecer de modo mais aprofundado a realidade da violência contra as crianças no nosso país e, em concreto, da violência sexual. Onde está o estudo nacional sobre a violência sexual contra crianças anunciado há cerca de um ano pela ministra do Trabalho e da Segurança Social, a ser coordenado pela Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção de Crianças e Jovens? Necessitamos de um estudo desta natureza para melhor definir medidas preventivas e interventivas, transversais aos diversos quadrantes da sociedade..É urgente definir e implementar uma verdadeira Estratégia Nacional de Prevenção da Violência contra Crianças, envolvendo entidades públicas e privadas, e capacitando todos os adultos que, de forma direta ou indireta, contactam com as mesmas..E onde estão os programas de intervenção terapêutica especializados para todas as pessoas que cometem crimes (de natureza sexual ou outra) contra crianças? Não aprendemos já que a reincidência é elevada e que pode ser minimizada com uma intervenção adequada e atempada?.Sublinhamos ainda a importância da criação da figura do Provedor da Criança, enquanto representante dos direitos e interesses das crianças à luz do compromisso de Portugal no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças. Esta figura deveria ter capacidade de coordenação, execução e monitorização das políticas sobre os direitos das crianças..Precisam-se medidas mais eficazes para combater a violência contra as crianças - afinal de contas, são elas o melhor que o mundo tem. Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal