Portugal e a dimensão sul das políticas de cooperação

Publicado a
Atualizado a

Há uns anos, numa reunião entre representantes da União Europeia e representantes da União Africana, e perante as referências que a UE fazia à necessidade de combater os efeitos das alterações climáticas, um líder africano explicava - com alguma impaciência - que África conhece muito melhor do que a Europa o preço que se paga quando há cheias e ciclones, secas e desertificação, aumento do nível do mar e destruição dos ecossistemas marinhos, lembrando que, sem prejuízo para pagar as consequências, África é responsável por cerca de 4% das emissões com efeito de estufa. E acrescentou que a idade média da população no continente é 19 anos e que o PIB per capita não chega aos 2000 dólares.

Assim, e sem prejuízo para a obrigação de combater os efeitos das alterações climáticas, que o nosso interlocutor reconhecia ser uma necessidade de todos, a prioridade em África é gerar a riqueza que permita aos seus habitantes terem a qualidade de vida que existe noutros continentes. De facto, dizia ele, o crescimento económico e o desenvolvimento social dos 150 anos da Revolução Industrial não beneficiaram todas as regiões do planeta da mesma forma.

A pessoa (se for uma) ou pessoas (se forem duas) que tenham paciência para ler esta coluna, poderão lembrar-se de um poeta contemporâneo escocês chamado Damian Barr que disse que a expressão “estamos todos no mesmo barco” é mentira. Na verdade, diz ele em verso, estamos todos na mesma tempestade, mas alguns estão num superiate e outros estão a flutuar nas ondas e a tentar não se afogarem.

Se estamos todos na mesma tempestade, a dimensão sul da cooperação para o desenvolvimento diz particularmente respeito a Portugal. Para além de ser uma constante da nossa política externa nos últimos 50 anos, há uma dimensão de segurança que a NATO integrou recentemente no seu pensamento estratégico através de um relatório coordenado pela prof. Ana Santos Pinto: Portugal está nas primeiras linhas do flanco sul e da segurança marítima da Aliança. E não é preciso ser um estratega militar de primeira qualidade para perceber que a melhor forma de garantir a paz e estabilidade da Europa é contribuir de forma eficaz e decidida para o bem-estar dos nossos vizinhos.

Quando falamos em políticas públicas para o desenvolvimento dos países e das regiões que mais precisam, estamos a falar de um interesse partilhado por países mais desenvolvidos e por países em desenvolvimento e não de caridade ou de sentimentos de culpa.

A tempestade é só uma e ou somos capazes de criar as condições para que todos sobrevivamos, ou não haverá superiate que valha a quem achar que morrer afogado é uma aflição só para quem está à mercê dos elementos. É um problema de todos.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt