Porque não um programa de policiamento “Imigrante Seguro”?

A PSP, que é proativa nestes projetos - Escola Segura, Comércio Seguro, Idosos em Segurança, Significativo Azul, entre outros - podia dar o primeiro passo, uma vez que tem sido a força de segurança com maior visibilidade nestas matérias.
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Já todos percebemos que imigração e segurança vão estar na agenda política e mediática de 2025. Por muito que os discursos mais moderados insistam em querer separar ambos os temas, também é compreensível que é escusado “tapar o sol com  a peneira”, usando a expressão do primeiro-ministro (PM) que, na entrevista que deu ao Diário de Notícias na edição especial do 160.º aniversário, foi bastante pragmático na abordagem que fez.

“Nunca fiz uma associação entre imigração e insegurança. E acho que ela não existe. Agora, também, não vamos estar a tapar o sol com a peneira. Há criminalidade dentro da comunidade portuguesa e há criminalidade dentro da comunidade imigrante. E há, sobretudo, um ataque feroz que este governo decidiu empreender contra as redes de tráfico de seres humanos e de aproveitamento da mão de obra imigrante”, disse Luís Montenegro.

Pegando nestas últimas palavras que nos lembram que os imigrantes são eles próprios muito mais vezes as vítimas de organizações criminosas do que criminosos; recordando as palavras, igualmente em entrevista ao DN, do comandante do Comando Metropolitano da PSP, Luís Elias, segundo o qual  “o crescimento da comunidade migrante cria desafios para as instituições em geral e para a própria polícia”; tendo em conta que, pela primeira vez, temos uma ministra da Administração Interna com sensibilidade extrema para as questões de Direitos Humanos na ação policial; e analisando de forma isenta de preconceitos, não a designada “operação do Martim Moniz” em si, mas todas as opiniões que podem contribuir para equilibrar a perceção de segurança e a proteção / integração dos imigrantes dos quais, sublinhou o PM, tanto precisamos, seria, provavelmente, de pensar num programa especial de policiamento de proximidade.

A PSP, que é proativa nestes projetos - Escola Segura, Comércio Seguro, Idosos em Segurança, Significativo Azul, entre outros - podia dar o primeiro passo, uma vez que tem sido a força de segurança com maior visibilidade nestas matérias, criando um programa “Imigrante Seguro”. Nunca é tarde para criar pontes com estas comunidades, para mostrar que a polícia existe apenas para combater os criminosos e não fazer de todos suspeitos contra uma parede.

Um dos exemplos que Luís Montenegro deu como aquele que não queria para Portugal,  foi o da Suécia, um país que há uma década era dos mais seguros e agora tem “graves problemas”.

Montenegro não quis fazer a relação, mas as autoridades suecas reconhecem a ligação desse recrudescimento - em 10 anos mais que duplicaram as mortes com armas de fogo, sendo a escalada de violência, associada ao tráfico de droga e armas  - a gangues das periferias, com  muitos jovens menores envolvidos, filhos de imigrantes desintegrados, em resultado de políticas de imigração falhadas.  

O alerta que preocupa o primeiro-ministro já tinha sido dado, aqui neste jornal, por Nelson Lourenço, sociólogo catedrático jubilado da Universidade Nova de Lisboa, presidente do Grupo de Reflexão sobre Estratégia e Segurança: “o discurso de que somos um país seguro pode esgotar-se!”, dizia em 2022. E dava, precisamente, como exemplo, a Suécia, onde 20% dos 10,5 milhões de habitantes são migrantes.

“Na UE, milhões de pessoas vivem hoje em contextos sociais e políticos que não são os seus de origem, nos quais a naturalidade, a nacionalidade e a identidade cultural constituem realidades distintas, fazendo da cidadania uma noção ainda mais complexa e abstrata. (...) Países que tinham baixíssimas taxas de criminalidade, mais baixas até que nós, com grande capacidade de integração, até porque são mais ricos, como a Suécia, viram em menos de cinco anos duplicar o número de homicídios. (...) Isto acontece em bairros periféricos habitados essencialmente por imigrantes mal integrados, com uma associação grande ao tráfico de droga. O que me preocupa é que esta alteração foi muito rápida e descontrolada”, assinalava este especialista.

Só temos de fazer melhor, com moderação e o “equilíbrio” que Luís Montenegro garante ter.

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