Para onde vão os apoios à habitação em Loures? 

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Fui ao site da Câmara Municipal de Loures analisar o que lá se diz sobre o apoio ao acesso à habitação no concelho.

Começo por encontrar uma notícia, de janeiro do ano passado, com este título: “Câmara de Loures lança oferta pública para aquisição de 270 habitações”, prometendo-se, no texto, entregar para venda, até março de 2026, 135 casas prontas a habitar a quem se candidatasse, até 9 de março desse ano, à versão aplicada neste concelho do programa nacional “1.º Direito” – Programa de Apoio ao Acesso à Habitação, que tem verbas europeias do PRR.

Para onde vão essas casas? Para nenhuma das 50 famílias das casas clandestinas do Bairro do Talude, derrubadas esta semana a caterpillar por ordem do presidente desta mesma Câmara de Loures, Ricardo Leão.
Encontro, depois, informação sobre um “Programa à Habitação +35 em Loures” que dava uma subvenção mensal a quem cumprisse os requisitos e entregasse candidatura até 4 de abril deste ano. Este programa visava apoiar agregados familiares com pelo menos um elemento com idade superior a 35 anos, residentes em Loures, que têm dificuldades em pagar a renda da casa.

Para onde foram estes apoios? Para nenhuma das 50 famílias das casas clandestinas do Bairro do Talude, derrubadas esta semana a caterpillar por ordem do presidente desta mesma Câmara de Loures, Ricardo Leão.
Encontro também informação sobre outro programa, chamado Apoio Financeiro Habitação Jovem em Loures, que visa apoiar jovens com idade entre os 18 e os 35 anos, na fixação de residência em Loures, através de um subsídio mensal para arrendamento ou aquisição de imóvel com crédito.

Para quem foi este subsídio? Para nenhuma das 50 famílias das casas clandestinas do Bairro do Talude, derrubadas esta semana a caterpillar por ordem do presidente desta mesma Câmara de Loures, Ricardo Leão.
Encontro informação sobre Arrendamento Apoiado para Habitações Municipais, destinado a indivíduos e agregados familiares que residem ou pretendam residir em habitações do Município de Loures, e que se encontrem em situação habitacional precária ou sem condições para obter habitação digna.

Quem beneficiou deste apoio? Nenhuma das 50 famílias das casas clandestinas do Bairro do Talude, derrubadas esta semana a caterpillar por ordem do presidente desta mesma Câmara de Loures, Ricardo Leão.
Há lá ainda mais apoios e há também listas de documentação necessária para apresentar candidaturas nesses programas: num deles são precisos 22 documentos, certidões, declarações, recibos, extratos, decisões judiciais e sei lá que mais! Noutro são 26 documentos. Noutro, 31. Um inferno!
Quem ajuda as pessoas a vencer esta burocracia? Ninguém do município ajudou as 50 famílias das casas clandestinas do Bairro do Talude a candidatarem-se?

Adorava que a propaganda sobre habitação que esta câmara, e certamente muitas outras, publicitam nos seus sites - humanista, responsável, sensível, solidária - correspondesse à realidade.

Adorava também que lá estivessem, detalhadamente, as condições e os nomes dos beneficiários de tanto apoio e subsídio, para perceber se resultam, ou não. Tenho a certeza, porém, que nada sobrou, a não ser o relento, para as 50 famílias das casas clandestinas do Bairro do Talude, derrubadas esta semana a caterpillar por ordem do presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão. 

Jornalista

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