Para além dos estereótipos: o papel das mulheres na Ciência
A 11 de fevereiro assinala-se o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, uma data que nos convida a refletir sobre o papel das mulheres neste campo crucial e fascinante do conhecimento humano. É um momento oportuno para analisarmos as razões que estão na origem da ainda existente disparidade de género nas áreas CTEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), e considerar as iniciativas em curso para continuar a promover a igualdade de oportunidades.
Uma das questões que frequentemente surge quando discutimos a sub-representação das mulheres na Ciência está relacionada com os assuntos que suscitam curiosidade a cada um dos géneros. No nosso entender existe a perceção errónea de que os rapazes têm uma curiosidade natural e inata sobre o funcionamento do mundo que os rodeia e dos princípios que regem o universo, enquanto as raparigas podem ser menos inclinadas a refletir sobre estes assuntos. No entanto, essa é uma visão algo simplista que não reflete a realidade. O que a experiência nos diz é que as raparigas que escolhem áreas científicas demonstram um interesse e uma determinação iguais ou até superiores às dos seus colegas do sexo masculino. A sua decisão de seguir carreiras na Ciência, na Engenharia e na Tecnologia é na maior parte das vezes conduzida por uma vontade consciente e uma paixão por descobrir, inovar e criar.
Acreditamos que uma das razões subjacentes à disparidade de género nas áreas CTEM reside nas influências sociais e culturais desde tenra idade. Desde o berço, os rapazes são frequentemente direcionados para brinquedos e atividades que estimulam o pensamento científico e a resolução de problemas. Enquanto isso, as raparigas são mais propensas a serem expostas a brinquedos que enfatizam o cuidado e o relacionamento interpessoal. Essas experiências moldam inconscientemente as escolhas futuras, levando os rapazes a enveredarem naturalmente por carreiras nas áreas CTEM, enquanto as raparigas podem sentir-se menos encorajadas ou preparadas para seguir esse caminho.
No entanto, é importante destacar que, apesar dessas influências iniciais que são cada vez mais esbatidas, as raparigas que superam essas barreiras e que escolhem áreas de estudo científicas ou tecnológicas, demonstram uma determinação e um compromisso com a profissão que escolheram abraçar verdadeiramente excecionais. Ao optarem por ingressar em campos tradicionalmente dominados por homens, estas mulheres enfrentam desafios adicionais, mas também trazem perspetivas únicas e um entusiasmo particular para enfrentar os problemas complexos do mundo moderno.
Se, por um lado, longe vão os tempos em que mulheres como Rosalind Franklin ou Jocelyn Bell Burnelliu, que viram os seus nomes afastados dos prémios Nobel (Fisiologia e Física), apesar dos seus estudos terem sido cruciais no estabelecimento da estrutura do ADN e na descoberta dos pulsares, respetivamente, não é menos verdade que ainda há muito caminho a trilhar para que todos tenham, no mundo científico e tecnológico, as mesmas condições e oportunidades. Existem organizações e iniciativas dedicadas a diminuir estas disparidades de género na Ciência, cujo trabalho se revela de extrema importância. Com esse propósito, a nossa Faculdade tem desempenhado um papel crucial nesse esforço, colaborando em projetos como, por exemplo, o programa Engenheiras Por Um Dia, que visa inspirar e capacitar jovens raparigas a considerar carreiras nas várias engenharias e com o qual a NOVA FCT já colabora desde a primeira edição, em 2017.
Além disso, a promoção de modelos femininos na Ciência, mentorias e programas de sensibilização são fundamentais para criar um ambiente inclusivo e equitativo para todas as pessoas interessadas em seguir estas áreas. É também com orgulho que a NOVA FCT tem uma presidente da Associação de Estudantes que é finalista do Mestrado Integrado em Engenharia Civil, encontrando-se a iniciar o seu 2.º mandato. Nos últimos 10 mandatos desta Associação, quatro deles tiveram raparigas como presidentes, uma demonstração clara de que estamos a formar uma geração para quem a paridade entre géneros é já uma realidade.
Em última análise, o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência é mais do que uma simples celebração: é um lembrete da necessidade contínua de desafiar estereótipos de género, promover a diversidade e garantir que todas as mentes talentosas tenham a oportunidade de contribuir plenamente para o avanço da Ciência e da sociedade como um todo. Enquanto nos esforçamos para construir um futuro mais igualitário e inclusivo, devemos reconhecer e valorizar as contribuições únicas das mulheres na Ciência, hoje e todos os dias.
Subdiretora da NOVA FCT para o Conselho Pedagógico