Pahlavi, Khomeini, Khamenei... Pahlavi?

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Sabes, minha filha, desde o início dos tempos, as dinastias sucederam-se, mas os reis sempre cumpriram as suas promessas. O xá não cumpriu nenhuma”, escreve Marjane Satrapi no seu livro de banda desenhada Persépolis. Quando a Revolução chega, em 1979, Marjane, assim como a família, alegra-se. Após décadas sob o regime despótico do xá, apoiado pelos EUA, acreditam que esse momento garantirá que o povo iraniano finalmente será livre para decidir por si mesmo quem irá liderar o país e como. Mas depressa o entusiasmo dá lugar à desilusão, quando a menina (a própria Marjane, então com 9 anos) percebe que a um regime opressor, com a terrível polícia secreta SAVAK, se vai seguir outro regime ainda mais opressor - a República Islâmica. E que um Irão governado por estes iranianos acaba por não ser melhor e, em muitos aspetos, é mesmo pior do que um Irão governado por potências estrangeiras, como no tempo do xá, muito próximo do Ocidente.

Hoje, muita oposição iraniana vê os ataques de Israel contra o seu programa nuclear como uma oportunidade para uma mudança de regime em Teerão. Por lá, já não manda o ayatollah Khomeini, o clérigo xiita que, com discursos inflamados, muito contribuiu para derrubar o xá Mohammad Reza Pahlavi, mas o homem que lhe sucedeu em 1989 como guia supremo, Ali Khamenei. Aos 86 anos, com um braço paralisado desde uma tentativa de assassínio em 1981 e de saúde frágil, o ayatollah estará na mira de Israel, que ameaça matá-lo, e o próprio presidente americano, Donald Trump, disse não estar a pensar fazê-lo... pelo menos para já.

Mesmo com todo o pânico de estar sob as bombas de Israel, “dois terços da população atual do Irão opõem-se ao regime da República Islâmica e nunca apoiarão Ali Khamenei, que continua a ser o carrasco do povo iraniano”, dizia-me há dias Emmanuel Razavi, um jornalista franco-iraniano, especialista em Médio Oriente e autor de A Face Escondida dos Mullahs. Para ele, não há dúvida, o futuro do Irão pode passar pelo regresso de um Pahlavi ao poder: “O príncipe Reza Pahlavi, é uma figura-chave na atual oposição iraniana. Aparece aos olhos de muitos iranianos como um elo de ligação entre o Irão e o Ocidente. Porque vive nos EUA, está imerso nas culturas iraniana e americana. É uma pessoa que traz bastante segurança”, garantia.

Aos 64 anos, o herdeiro do trono iraniano acredita que o regime que derrubou o pai “chegou ao fim e está em processo de colapso”. “Agora é a hora de nos erguermos, a hora de reconquistar o Irão”, afirmou, afastando um regresso à monarquia: “Estamos preparados para os primeiros cem dias após a queda, para o período de transição e para o estabelecimento de um governo nacional e democrático.”

Mas será que quatro décadas e meia sob o regime dos ayatollahs chegaram para fazer os persas, civilização com 2500 anos, esquecer a má memória do apelido Pahlavi?

Editora-executiva do Diário de Notícias

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