Os paradoxos da tecnologia
O potencial da tecnologia é gigante! Cliché. O futuro é da tecnologia. Outro cliché...
Na verdade, ela sempre existiu. Seja num ábaco, num arado, num iPhone ou numa Alexa, está cá. Sempre esteve.
Só se estranha quando algo novo aparece, mas essas novidades tecnológicas dão-nos uma quantidade infinita de artefactos, com o objetivo de melhorar as nossas vidas. Há que considerar, no entanto, que ao incremento de benefícios vêm associadas dificuldades e frustrações perante a utilização dessa tecnologia.
Estamos perante um paradoxo. Não? Então, melhora a nossa vida, mas faz-nos mais estúpidos.
Se tomarmos como exemplo um relógio, bastava pô-lo no pulso, dar corda e ver as horas. Eram objetos de culto! De corda, de pulso, de bolso; de latão, prata ou ouro. Vendidos nas mais espetaculares ourivesarias e joalharias.
E o que aconteceu? A tecnologia melhorou o objeto, banalizou-o, atirou-o para todo o tipo de lojas e fez de nós estúpidos!
Dar corda e ver as horas era uma relação razoável, fácil, aceitável. Zero de stress. E agora?
Agora quando quero ir correr não tenho bateria. Dou corda... espera! Afinal não.
Tenho de pô-lo a carregar. Depois é o Strava no relógio que sincroniza mal com o smartphone. É o do smartphone que colide com o do relógio. Ahhh!!! Que se lixe! Ainda não fui correr e já estou cansado.
A tecnologia que nos simplifica a vida é a mesma que complica os objetos. Ter mensagens no relógio enquanto corres é bestial! Ter GPS no pulso para não te perderes é melhor ainda. Mas...
A tecnologia tem este poder. E é paradoxal. De culto a banal. De razoável a stressante. Ou seja, mais funções trazem mais problemas e mais frustrações.
Veja-se a internet. Deu-nos o mundo. Afastou-nos dele.
Temos acesso a tudo! Mais informação. Mais mundo. Mas nem por isso tomamos melhores decisões.
Outro paradoxo da tecnologia: o tempo. Melhores objetos, mais tempo. Será?
Não me parece... enviávamos cartas postais, agora recebemos e-mails ao segundo.
Ligávamos para casa ou para o escritório, agora andamos com a central telefónica atrás. E ai de quem não atenda, seja a que hora for!
Como refere Don Norman, no seu livro The Design of Everyday Things, o verdadeiro desafio para o designer é lutar contra o paradoxo, pois quantos mais objetos temos para economizar tempo menos tempo temos, e chegará o dia em que não teremos de fazer nada, mas não temos tempo para fazer isso!
Designer e diretor do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia