Os muros de Pedro Nuno Santos

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A nova auditoria do Tribunal de Contas à ANA revelou o que todos já sabíamos. As privatizações em geral e as dos aeroportos portugueses em particular foram um excelente negócio... para os privados que muitas vezes compraram o cão com o pelo do próprio cão.
O que nos confirma a auditoria do Tribunal de Contas é que a privatização não teve em atenção: os ganhos que o Estado teria com a empresa no futuro; o desenvolvimento da economia, da aviação e os interesses dos passageiros; a inexistência de uma entidade reguladora independente do Governo, porque parte das suas funções estão sujeitas a uma cadeia hierárquica do Governo; a falta de um controlo eficiente das receitas que cabem ao Estado nessa concessão; e terá até desaparecido, do processo de privatização, parte da documentação que alegadamente justificou a entrega dos aeroportos portugueses à empresa francesa Vinci, em regime de monopólio durante meio século.

Como em anteriores privatizações, por pressão da União Europeia, o Estado vendeu um conjunto de empresas altamente lucrativas, estratégicas do ponto de vista económico, e até determinantes para a segurança do país por valores tão baixos que, em poucos anos de lucros, os privados já amortizaram o dinheiro que pagaram pela ANA, Galp, EDP, REN e CTT, só para dar alguns exemplos.

Para explicar aos leitores como as privatizações foram vendidas a preço de saldos, imagine-se um T3 em Lisboa, com uma renda de 1000 euros há uma década, a ser vendido por 120 mil euros, o equivalente a apenas dez anos de renda, mais tempo que os investidores privados na Galp e na ANA demoraram a recuperar o dinheiro que deram ao Estado pelas empresas públicas.

Apesar dos resultados desastrosos das privatizações, o líder do PS, Pedro Nuno Santos, garante que não lhe passa pela cabeça corrigir nenhuma dessas situações.
Não temam os fundos de investimento, nem as empresas monopolistas privadas: vão manter empresas estratégicas que prestam serviços públicos fundamentais, mesmo que isso não faça nenhum sentido do ponto de vista económico e que o serviço se degrade para aumentar ao máximo os dividendos milionários aos acionistas.

“Não vamos fazer nenhuma reversão”, garantiu de forma peremptória ao Expresso, o novo líder dos socialistas, embora admitindo que alguns processos de privatização foram mal conduzidos. Sublinhou, contudo, que não é possível “estar sempre a reverter tudo o que os outros fizeram”, referindo-se mais concretamente às “asneiras” que o PSD e CDS cometerem no período em que governaram.

O atual secretário-geral dos socialistas criticou até o memorando da troika, no qual constava a privatização dos CTT, para dizer que “estava mal”. Admitiu ainda que a posição do Estado, hoje, não é a melhor, relativamente aos correios, por ter sido vendido o património que permitia que os correios cumprissem com as suas funções fundamentais para com as pessoas que vivem em Portugal.

António Costa e Pedro Nuno Santos garantem que não vão voltar a erigir muros entre o PS e os partidos à sua esquerda, ao mesmo tempo que mantém os muros políticos que o impedem de reverter leis laborais e privatizações desastrosas e perigosas.

Editor-chefe do Diário de Notícias

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