Os desejos para as escolas e a realidade

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Passou mais de uma semana desde a divulgação de um documento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) com um retrato demolidor sobre a Educação nacional. Recordo: mais de 40% dos adultos portugueses (dos 16 aos 65 anos) apenas conseguem entender textos simples e fazer cálculos básicos. Juntava ainda este alerta: “Na literacia, os adultos com Ensino Superior em Portugal, por exemplo, obtiveram resultados inferiores aos dos adultos com Ensino Secundário na Finlândia.”

Se a este documento juntarmos os resultados do PISA 2023 (que ficaram aquém do esperado em Matemática, Leitura e Ciências) e do Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS) - com uma descida dos resultados dos alunos do 8.º ano a Matemática - ficamos com um panorama que deve preocupar os decisores políticos e as pessoas ligadas ao setor.

Mas, a verdade é que, passados tantos dias e inúmeros debates televisivos e artigos de opinião, sobre vários temas nacionais e internacionais, não vi, nem li, uma chamada de atenção para o assunto. Até porque todos já ouvimos muitas vezes que Portugal tem, neste momento, a geração mais bem preparada de sempre. Mas perante os dados da OCDE sobre os adultos o que devemos pensar?

Ainda no setor da Educação há um outro tema que também não merece espaço mediático: os apoios às crianças e jovens com necessidades educativas especiais. Ou seja, a falta dessa ajuda nas escolas públicas. Por experiência de ouvir professores e educadores a falar sobre o assunto, sei das dificuldades que as escolas enfrentam: não há psicólogos, não há auxiliares de ação educativa, não há professores de Educação Especial, nem educadores sociais, tal como faltam infraestruturas adequadas na maioria das escolas. Mas no ano letivo passado existiam cerca de 90 mil crianças (8% dos inscritos) do Pré-escolar ao Secundário a necessitar dessa ajuda.

No entanto, parece que ninguém, exceto os profissionais que diariamente trabalham nas escolas, está a tentar resolver essas questões. Aliás, o que oiço é queixas de recusas do Ministério da Educação, Ciência e Inovação à contratação de mais profissionais.

Ontem, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação apresentou várias medidas para reforçar a aprendizagem dos alunos. O objetivo é ótimo, mas também é necessário olhar para as dificuldades atuais das escolas e dos seus alunos. Quando isso se conseguir, aí sim, teremos uma escola verdadeiramente inclusiva.

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