Orçamento e bom senso

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O Orçamento do Estado para o próximo ano vai provavelmente ser aprovado mediante um acordo entre o Governo e o principal partido da oposição, o PS. Há demasiado em jogo para que tal não possa acontecer e, além disso, ninguém quer verdadeiramente um cenário de eleições antecipadas no início do próximo ano. Esta parece ser uma daquelas raras situações em que o interesse próprio dos principais partidos políticos - com exceção do Chega - estará alinhado com o interesse nacional.

Portugal precisa de um Orçamento do Estado que permita uma redução da carga fiscal sobre as empresas e as famílias, tanto a nível de impostos diretos, como indiretos. Mas precisa, antes de mais, de um Orçamento do Estado que abra a porta a verdadeiras reformas em áreas-chave como a Justiça, a Saúde ou a Educação. Caso contrário, o Estado estará a abdicar de receita sem que, em contrapartida, possa existir crescimento económico sustentável e duradouro. A escolha será entre ter mais do mesmo, ou ter melhor Estado.

Neste contexto, tanto o Governo da AD como o Partido Socialista têm a oportunidade de demonstrar que são capazes de fazer mais e melhor do que aquilo que foi conseguido nas últimas décadas. Precisamos de uma Justiça que realmente funcione, de um Sistema de Saúde que vá ao encontro das necessidades dos cidadãos (em vez de os obrigar a rumar ao privado) e de uma Escola que verdadeiramente crie oportunidades para todos. Isto é o mínimo que qualquer português deve exigir do Estado.



O debate entre Donald Trump e Kamala Harris foi alvo de várias análises, com muitos especialistas a atribuírem a “vitória” à ainda vice-presidente dos Estados Unidos. Mas o debate foi mais uma demonstração da extrema polarização da sociedade americana. Podemos achar, como muitos fazem, que Trump é o único culpado pelo nível de extremismo e demagogia do debate político nos Estados Unidos, mas a situação é muito mais complexa do que parece à primeira vista.

O extremismo e a intolerância existe nos dois lados da barricada, definindo-se esta última pela incapacidade de aceitar quem pensa de forma diferente. A grande virtude da democracia não é o facto de podermos viver em liberdade e de podermos escolher os nossos líderes, embora estas sejam vantagens inegáveis e evidentes. A grande virtude da democracia está no facto de podermos viver em paz uns com os outros e de conseguirmos ter transições pacíficas do poder de forma consensual e de acordo com a vontade da maioria do povo. Para tal, é necessário que todas as forças políticas saibam conviver umas com as outras e dialogar quando necessário.

Nos Estados Unidos, a polarização chegou a tal nível que coloca em causa esta característica da democracia. Precisa-se de mais bom senso, prudência e tolerância, deixando de ver cada eleição como a derradeira batalha entre o bem e o mal, porque quando vemos o mundo com essas lentes é fácil desumanizar o adversário e cair no extremismo.

Diretor do Diário de Notícias

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