Opinião pessoal (LXIII)
Como se sabe, a coluna semanal que aqui assino só raramente examina assuntos de política nacional. Porém, hoje, já a frio, proponho uma reflexão sobre a essência dos acontecimentos ocorridos que precipitaram o fim da Legislatura, a 11 de Março. Mas, por decisão do Governo a rejeição da moção de confiança poderia ter sido evitada se, antes da sua votação, tivesse sido retirada.
Não irei comentar os argumentos, nem declarações, então, proferidas pelos protagonistas políticos tanto do Governo e como da Oposição. Também não escreverei sobre o conteúdo dos discursos pronunciados a quente.
Na minha opinião, muitas das posições assumidas são eticamente inaceitáveis.
Ora, é precisamente sobre a dimensão Ética da crise que irei sintetizar alguns elementos para a sua compreensão.
A esse respeito, sublinho que em termos etimológicos, Ética tem origem no grego: êthê, costumes. Estamos, assim, no domínio da maneira de viver de cada um de nós, tendo em atenção que cada pessoa distingue, pela razão, a maneira de viver como certa ou errada.
Realço que o conceito de Ética remonta à Grécia Antiga. Foi, primeiramente, apresentado por Aristóteles (384 aC – 322 aC) e depois estudado por muitos pensadores ao longo da História até à atualidade.
Como ensinou o nosso Antero de Quental (1842-1891) a política é “o instrumento da justiça social, mas, mais que tudo, a política tem que ser julgada como moral pelo senso comum da generalidade dos cidadãos”. Por outras palavras, é preciso que todos julguem a ação política como moral. Isto é, que as respetivas normas de conduta sejam socialmente aceites nos planos da honestidade, do respeito por outros e da responsabilidade.
A honestidade envolve a verdade como sendo oposta do falso, mas não do erro.
Já no que respeita à responsabilidade, o filósofo inglês Bertrand Russel (1872-1970) insistia que as pessoas, em geral, são mais exigentes em relação aos titulares que exercem cargos políticos eleitos do que, por exemplo, em comparação com aos operários. As ações conduzidas por um ministro ou por um operário não são classificadas da mesma maneira. A responsabilidade exigida a um e a outro é diferente. É, por isso, dever dos políticos a observação da Ética, entendida como “o modo certo de viver”.
Afinal, reconheçamos, que o juízo ético de cada pessoa sabe distinguir os modos de viver, identificando uma prática moral da imoral; a atuação certa e errada; o bem do mal; o bom do mau. Ou, dito de outra forma, mesmo na ausência de qualquer ilegalidade ou de não ter havido crime algum, nem sequer um ilícito contraordenacional, a população sanciona todos que faltam à Ética, sobretudo se for um governante. Inevitável.