Opinião pessoal (LVII)
Com orgulho, costumo exibir a minha condição de cidadão de nacionalidade portuguesa. Nasci, estudei e resido em Lisboa. Gosto de ser europeu, ainda por cima integrado na União Europeia, desde 1986. Festejei a adesão à moeda única, Euro, em 2002. Sou, portanto, uma das muitas pessoas que está inserida, no plano geográfico, no chamado “Mundo Ocidental”. Identifico-me com o modo de viver no Ocidente. Mas, sublinho, respeito o culto de todas as religiões, bem como os respetivos costumes. Sou contra todas as formas de discriminação quer baseadas no género, na nacionalidade, na cor da pele, no estatuto social ou na fé. Humanista, antes de tudo.
Simpatizo com imigrantes e emigrantes. Desde novo, ainda adolescente, cultivo todas as dimensões da Liberdade. A Revolução de Abril foi uma enorme alegria. Aplaudi a aprovação da Constituição de 1976, apesar de reconhecer que ainda há espaço para melhorar a qualidade do nosso sistema democrático.
Nestes termos, considero-me um regozijado.
Estou feliz por estar onde estou, mas, ao mesmo tempo, mantenho um estranho sentimento de preocupação sobre o futuro das próximas gerações. Os nossos filhos e netos poderão ser confrontados com a exposição a riscos indesejáveis. Avizinham-se tempos cinzentos. Sinto, por isso, um misto de incerteza e inquietude. Um desassossego que não me larga. Um certo devir difícil.
Vem isto a propósito da insegurança gerada não só por guerras, mas também pelo reconhecimento da fragilidade de governos e, sobretudo, pela ausência de líderes com credibilidade inquestionável.
Reparemos.
A atual situação política internacional é assinalada pela insensatez de muitos governantes. A imprudência tornou-se comum. Acentuou-se depois dos recentes resultados de eleições em países democráticos. São, agora, constantes os prenúncios bélicos, cada vez mais devastadores. Voltou a guerrilha das tarifas alfandegárias a fazer lembrar as antigas contendas entre franceses e ingleses no tempo napoleónico (que, aliás, tão bem conhecemos na época da corte no Brasil).
Prosseguem as guerras no Leste Europeu e no Médio Oriente, ambas marcadas por graves violações do Direito Internacional.
Chegou-se a um cenário que até há poucas semanas era inacreditável: dois países aliados, fundadores da NATO (1949), não se entendem com o principal membro da mesma Aliança, também fundador, que anuncia, desmesuradamente, pretender expandir as suas fronteiras para territórios daqueles aliados. A confirmar-se, será que a aplicação de eventuais sanções irá obedecer a critérios uniformes?
E, finalmente, como interpretar o atual poder exercido por oligarcas tanto na área de influência Ocidental, como na “outra”?
Ex-diretor-geral da Saúde
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