Serviços mínimos
António Costa passou pela primeira noite de congresso com o mesmo discurso que tem usado nos últimos tempos. Mais linha, menos linha, quase nada mudou no relatório e contas dos tempos da governação e nos temas que decidiu trazer a este congresso e que o país-que-se-interessa-por-moções-a-congressos - uma imensa minoria - já conhece há semanas.
Como alguém que se habituou demasiado a um fato confortável, Costa não trocou de roupa e subiu ao palco mais primeiro.-ministro do que secretário-geral. Acontece a quem anda naquelas andanças da governação ter o discurso tão bem preparado que ele surge mesmo quando não se quer. Não sei se seria esse o caso no palco da Batalha ou se a repetição é já um sinal avançado da pré-campanha para o ciclo eleitoral de 2019. O certo é que, para mim, foi como se estivesse de novo sentado numa das salas do gabinete provisório do primeiro-ministro, no Terreiro do Paço, a gravar a entrevista que Costa deu ao DN há 15 dias. Ouvi frases inteiras como velhas conhecidas. E se nessa entrevista Costa deu notícia - tinha coisas novas para dizer -, aqui entrou e saiu sem grande novidade. Houve o "sim" à eutanásia, uma clarificação de uma posição que Costa nunca assumiu, mas que se adivinhava, e pouco mais.
Foram serviços mínimos. Nem mais nem menos. Foi, no essencial, o que se poderia esperar de um discurso de abertura num congresso de um partido no poder. E os casos? Costa talvez tenha resolvido um. Trouxe Sócrates com ele. Para o discurso, com um elogio a propósito do Tratado de Lisboa e para o vídeo que marcou os 45 anos do partido. Num congresso em que todos esperavam ver, ou sentir, um elefante na sala, o antigo primeiro-ministro teve direito ao mesmíssimo espaço e tempo de imagem das outras 45 figuras, e os aplausos nem sequer suspiraram. Hoje veremos quem poderá subir ao palco e que discursos podem ficar como "o irritante" num congresso com muito pouca margem para discursos para lá das moções.