Mais um milagre alemão. E dos grandes

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Três evidências: Angela Merkel está no quarto e último mandato como chanceler mas ainda dita muito do que acontece hoje na Europa; o PPE perdeu força no novo Parlamento Europeu, está dividido e escolheu mal o candidato oficial, mas começou por propor um alemão (Manfred Weber) para a presidência da Comissão e acabou por ter mesmo um alemão, no caso uma alemã, no cargo; Ursula von der Leyen, ministra da Defesa a caminho de uma previsível reforma política depois de ter chegado a ser vista há uns anos como a delfina de Merkel, faz agora história como a primeira mulher a presidir à Comissão Europeia. Um triplo milagre, na realidade um triplo milagre alemão.

De certeza que o que se passou nos bastidores na cimeira de Bruxelas não foi bonito e muito começa já a saber-se. Sim, Merkel chegou a aceitar o socialista Frans Timmermans como presidente da Comissão, num compromisso com os socialistas e o bloco liberal liderado pelo presidente francês Emmanuel Macron, mas os partidos do Leste dentro do PPE boicotaram o holandês. Sim, a Alemanha teve de procurar entendimentos com o Grupo de Visegrado, que não aprecia a determinação de Timmermans em fazer respeitar as regras da Europa. Mas, no fim, um voltar atrás e uma cedência da chanceler que põe uma das suas ministras como sucessora do luxemburguês Jean-Claude Juncker é, no mínimo, transformar uma derrota numa vitória. Até porque terá sido o prestígio de Merkel que conseguiu em grande medida evitar um contraboicote da parte de socialistas e liberais, que criaria uma crise muita séria numa Europa já abalada pelo Brexit e pelos populismos de direita. Veremos agora se não é o Parlamento Europeu a gerar essa crise causando problemas à aprovação de Von der Leyen.

Uma evidência final, pois: fala-se muito do milagre alemão pós-1945, quando sob a liderança de Konrad Adenauer a nova república federal se tornou um modelo de democracia e um exemplo de sucesso económico. Já tinha havido outros milagres alemães, como a pujança do recém-criado Império de Guilherme I, ou até a recuperação da derrota na Primeira Guerra Mundial. E, nos tempos mais recentes, o próprio êxito da reunificação de 1990 pode ser visto como um milagre alemão. Hoje houve mais um.

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