Há baixas e quantas? A guerra de Trump depende dos números

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Das duas bases americanas no Iraque atacadas por mísseis iranianos, uma diz muito a Donald Trump, a Al Asad: em dezembro de 2018 o presidente fez aí uma visita às tropas, quando estas estavam ainda fortemente envolvidas no combate ao Daesh, que controlava território tanto no Iraque como na Síria.

A escolha pelo Irão da Al Asad, "leão" em árabe, pode, porém, ter que ver sobretudo com servir de base para drones como o que matou o general Qassem Soleimani, da Guarda Revolucionária. Situada 100 quilómetros a oeste de Bagdad, a Al Asad tem lá estacionados drones Reaper ("Ceifador"), exatamente o modelo que se sabe ter sido usado para o ataque ao general iraniano no aeroporto da capital iraquiana, onde estava a ser recebido por uma das milícias xiitas aliadas de Teerão. A pilotagem terá sido feita a partir de uma base nos próprios Estados Unidos.

"So far so good! All is well", escreveu Trump no Twitter depois da retaliação iraniana. O que deixa entender que em termos de baixas a realidade pode estar muito distante dos 80 mortos reivindicados pelo Irão. E os números aqui serão decisivos para se perceber se haverá uma escalada militar.

Nestes três anos de mandato, Trump tem dado provas em vários conflitos de que não é um convicto belicista, e mesmo noutras crises com o Irão recuou quando se apercebeu da mortandade que seria provocada. A justificação dada por Washington para abater Soleimani no dia 3 foi a necessidade de lançar um aviso ao Irão contra a forma como estende a sua influência no Médio Oriente do Iémen ao Líbano, passando pela Síria e cada vez mais o Iraque, país oficialmente aliado dos Estados Unidos. A escolha de uma figura considerada herói pelos iranianos gerou uma reação inédita do lado de Teerão, com um nível de ameaças até agora nunca feitas aos interesses americanos apesar da rivalidade que vem desde que em 1979 a revolução islâmica derrubou o xá. Daí a necessidade do regime dos ayatollas de mostrarem capacidade de retaliar. E com grande simbolismo.

O ataque às bases americanas foi uma retaliação direta, com mísseis disparados do próprio Irão, o que mostra uma determinação muito superior àquela que viria do recurso a milícias aliadas. Em termos internos e externos, salva para já a face do regime, mas este tanto pode ficar por aqui, como ousar ainda mais na sua estratégia de vingança, o que contrariaria o habitual pragmatismo iraniano. O próprio chefe da diplomacia, Javad Zarif, já veio pôr água na fervura.

Retaliará agora a América? Em que escala? Com uma ferocidade que ou assusta o Irão ou começa uma guerra total? Está nas mãos de Trump e do relatório que lhe chegar das baixas em Al Asad e também na base de Erbil.

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