Os tiros verbais entre Trump e Maduro não devem fazer esquecer que da simpatia e algumas armas às escondidas dadas a Bolívar contra o império espanhol até a Marinha americana vir no início do século XX pôr fim ao bloqueio de Caracas por navios alemães e britânicos não faltam momentos de solidariedade entre os Estados Unidos e a Venezuela. Esta, aliás, retribuiu essa solidariedade ao declarar guerra ao Eixo quando se soube do ataque a Pearl Harbor; e foi generosa a fornecer petróleo aos americanos durante toda a Segunda Guerra Mundial..Quando se fala tanto de uma intervenção americana contra Maduro, em apoio de Guaidó, salta à vista que a Venezuela tem escassas razões de queixa históricas dos Estados Unidos nessa matéria, sobretudo comparado com o resto das Caraíbas. Cuba e República Dominicana, em tempos mais recuados, e Granada e Panamá, há poucas décadas, viram várias vezes os marines desembarcar. E a vizinha Colômbia ainda hoje se recordará com mágoa de que o separatismo panamiano foi incentivado pela necessidade americana de construir um canal que facilitasse o comércio por mar entre Nova Iorque e São Francisco..Não significa isto que Washington nunca se intrometeu nos assuntos venezuelanos. O golpe fracassado de 2002 contra Chávez, então no auge da popularidade, contou com simpatia na equipa de Bush filho, com alguém a achar que vacinar a América Latina contra um socialismo triunfante nas urnas era boa ideia. E tratava-se também de garantir que o petróleo venezuelano continuava a chegar aos Estados Unidos. Parece que as refinarias no golfo do México estão mais preparadas para o crude da Venezuela do que para o de xisto..Ao apoiarem Guaidó, presidente do Parlamento e autoproclamado presidente da República, os Estados Unidos foram acusados de novo golpe, agora contra Maduro, que em 2013 sucedeu a Chávez. Ainda sob o choque da morte do líder revolucionário, os venezuelanos deram logo depois uma ligeira maioria ao seu sucessor, o qual em 2018 foi reeleito presidente já com a oposição a boicotar a votação e tendo por pano de fundo uma grave crise económica. Só que os Estados Unidos não estão sós no projeto Guaidó - contam com o apoio da maioria dos países latino-americanos e da União Europeia, o que tira argumentos a Maduro, apesar do apoio russo e chinês..Contra a possibilidade de uma invasão americana como aconteceu em 1983 em Granada ou em 1989 no Panamá levantam-se várias lógicas: primeiro, nunca os Estados Unidos, tirando os conflitos de fronteira com o México, se lançaram abertamente na região contra um país do porte da Venezuela; segundo, há que evitar o risco de o nacionalismo antigringo se transformar em base de apoio última ao chavismo-madurismo em caso de conflito; terceiro, a América já aprendeu que é mais fácil começar uma guerra do que terminá-la e, portanto, a sua vantagem esmagadora em meios militares pode não ser suficiente, como mostrou, bem longe de Caracas, o sucedido em Cabul e em Bagdad. Trump, aliás, mal chegou à Casa Branca, foi informado de que uma intervenção militar na Venezuela seria um desastre.
Os tiros verbais entre Trump e Maduro não devem fazer esquecer que da simpatia e algumas armas às escondidas dadas a Bolívar contra o império espanhol até a Marinha americana vir no início do século XX pôr fim ao bloqueio de Caracas por navios alemães e britânicos não faltam momentos de solidariedade entre os Estados Unidos e a Venezuela. Esta, aliás, retribuiu essa solidariedade ao declarar guerra ao Eixo quando se soube do ataque a Pearl Harbor; e foi generosa a fornecer petróleo aos americanos durante toda a Segunda Guerra Mundial..Quando se fala tanto de uma intervenção americana contra Maduro, em apoio de Guaidó, salta à vista que a Venezuela tem escassas razões de queixa históricas dos Estados Unidos nessa matéria, sobretudo comparado com o resto das Caraíbas. Cuba e República Dominicana, em tempos mais recuados, e Granada e Panamá, há poucas décadas, viram várias vezes os marines desembarcar. E a vizinha Colômbia ainda hoje se recordará com mágoa de que o separatismo panamiano foi incentivado pela necessidade americana de construir um canal que facilitasse o comércio por mar entre Nova Iorque e São Francisco..Não significa isto que Washington nunca se intrometeu nos assuntos venezuelanos. O golpe fracassado de 2002 contra Chávez, então no auge da popularidade, contou com simpatia na equipa de Bush filho, com alguém a achar que vacinar a América Latina contra um socialismo triunfante nas urnas era boa ideia. E tratava-se também de garantir que o petróleo venezuelano continuava a chegar aos Estados Unidos. Parece que as refinarias no golfo do México estão mais preparadas para o crude da Venezuela do que para o de xisto..Ao apoiarem Guaidó, presidente do Parlamento e autoproclamado presidente da República, os Estados Unidos foram acusados de novo golpe, agora contra Maduro, que em 2013 sucedeu a Chávez. Ainda sob o choque da morte do líder revolucionário, os venezuelanos deram logo depois uma ligeira maioria ao seu sucessor, o qual em 2018 foi reeleito presidente já com a oposição a boicotar a votação e tendo por pano de fundo uma grave crise económica. Só que os Estados Unidos não estão sós no projeto Guaidó - contam com o apoio da maioria dos países latino-americanos e da União Europeia, o que tira argumentos a Maduro, apesar do apoio russo e chinês..Contra a possibilidade de uma invasão americana como aconteceu em 1983 em Granada ou em 1989 no Panamá levantam-se várias lógicas: primeiro, nunca os Estados Unidos, tirando os conflitos de fronteira com o México, se lançaram abertamente na região contra um país do porte da Venezuela; segundo, há que evitar o risco de o nacionalismo antigringo se transformar em base de apoio última ao chavismo-madurismo em caso de conflito; terceiro, a América já aprendeu que é mais fácil começar uma guerra do que terminá-la e, portanto, a sua vantagem esmagadora em meios militares pode não ser suficiente, como mostrou, bem longe de Caracas, o sucedido em Cabul e em Bagdad. Trump, aliás, mal chegou à Casa Branca, foi informado de que uma intervenção militar na Venezuela seria um desastre.