Um dia muito esperado
27 de abril de 2018, sexta-feira, um dia muito esperado que marcará um novo e positivo ciclo na história contemporânea. Na península coreana, em Panmunjeom, em plena zona desmilitarizada, símbolo de divisão das duas Coreias, vai ter lugar a cimeira intercoreana. Os Jogos Olímpicos de Pyeongchang 2018, que se realizaram no passado mês de fevereiro, abriram a porta a um descongelamento acelerado das relações entre as duas Coreias. Ao longo dos três últimos meses trabalhou-se para chegar à declaração conjunta que os líderes vão adotar na cimeira de amanhã.
Esta cimeira tem três significados importantes. Primeiro, a cimeira realizar-se-á na Casa da Paz localizada na parte sul de Panmunjeom e, pela primeira vez e pelo seu próprio pé, o líder da Coreia do Norte chegará à Coreia do Sul, atravessando a linha de demarcação militar. Dependendo do resultado desta cimeira, podemos esperar que os encontros entre os líderes das duas Coreias comecem a realizar-se regularmente.
Segundo, a cimeira intercoreana está a ser preparada em paralelo com a cimeira EUA-Coreia do Norte. Os acordos da cimeira intercoreana serão novamente debatidos na cimeira EUA-Coreia do Norte daqui a um mês. Quero acreditar que as decisões tomadas nestas duas cimeiras, inter-coreana e EUA-Coreia do Norte, vão ser plenamente implementadas, pois quanto melhor for a implementação das decisões maior será a confiança criada, o que certamente facilitará a comunicação entre as três partes.
Terceiro, esta cimeira tem três temas essenciais: desnuclearização da península coreana, paz duradoura e melhoramento das relações intercoreanas. A meu ver, o resultado da visita à Coreia do Norte de Mike Pompeo - indicado como novo secretário de Estado dos EUA, a par do anúncio da Coreia do Norte, no dia 21, sobre o desmantelamento das instalações de testes nucleares de Punggye-ri e, ainda, da suspensão dos testes nucleares e lançamento de mísseis, são bons indicadores que nos permitem esperar que na cimeira intercoreana sejam tomadas as melhores decisões para a paz e segurança, não só na península coreana mas em todo o mundo.
Estive em Fátima no fim de semana passado. Durante a missa no recinto do santuário rezei para que, quando voltasse a Fátima no próximo ano por esta altura, a península coreana já fosse uma península verdadeiramente desnuclearizada, onde todas e quaisquer armas nucleares norte-coreanas tivessem sido eliminadas; uma península onde não existissem ameaças de armas de destruição maciça, pois a Coreia do Norte teria desistido da produção de armas químicas, tornando-se membro da Organização para a Proibição de Armas Químicas; uma península coreana em que a zona desmilitarizada, que na realidade é uma área com forte presença militar, tivesse passado a ser verdadeiramente desmilitarizada e se tivesse convertido numa pacífica reserva internacional de biodiversidade. Ironicamente, a DMZ tornou-se um paraíso para plantas e animais por ser uma zona despovoada há 65 anos. Uma península coreana onde os direitos humanos universais fossem respeitados e onde as famílias separadas há muito tempo pudessem reunir-se livremente; uma península coreana onde os países pertencentes ao Diálogo a Seis tivessem representações diplomáticas em Pyongyang e os seus seis embaixadores se reunissem com regularidade. Por último, uma península coreana aberta ao mundo que tornasse possível uma grande viagem de comboio com partida em Busan - a minha cidade natal no sul da península coreana -, passasse pela estação de comboios de Panmunjeom, na atual DMZ, pelas cidades de Gaeseong e Pyongyang na Coreia do Norte, por Moscovo, Paris e, por fim, Lisboa.
*Embaixador da Coreia do Sul em Portugal