A não-imagem: as eleições através dos olhos de um designer
PAF! Lembram-se?
Em 2015 ganhou a coligação PAF! Mas na verdade não ganhou... No domingo ganhou o PS, que não tinha ganho em 2015, mas afinal ganhou.
E o que sei eu de política? Pouco. Vê-se pelo arranque do texto...
Mas sei o suficiente para arriscar que o design ajuda a vários níveis e que a ausência dele se faz sentir. E muito!
Podemos especular sobre vários níveis da utilização da imagem.
Num primeiro nível temos a imagem dos próprios políticos. Novos, velhos, muito velhos, demasiado velhos... a precisarem de uma renovação de imagem. Deles próprios e quiçá dos, ou nos, próprios partidos.
A percepção que o eleitor tem das forças políticas é a variável mais importante nesta equação. E a percepção não falha! O que falha é a forma como a mensagem passou. E a mensagem, quer queiramos quer não, é a imagem, é a forma como falamos, vestimos, olhamos, comunicamos... e já agora, a forma como aparecemos nos cartazes! E o "aparecemos" são uma vez mais as percepções.
Num segundo nível temos o nível informativo. Toda a notícia, facto, curiosidade ou especulação é transformada numa infografia.
No período pré-eleitoral somos bombardeados com gráficos comparativos entre políticos e entre políticas, após as eleições é tempo de ilustrar, também em forma de circulozinhos e barrinhas, o futuro número de deputados por cor partidária e comparar esta vitória com as anteriores. Pena que este nível informativo não se faça sentir no acto da escolha... Os boletins de voto, estes então, são de uma insipiência atroz! Há que mudar a imagem destes também! Parece uma lista de compras... quero eu dizer, uma lista seca e sem interesse. Sem interesse visual, claro! A qualidade política, essa nem me atrevo a discutir.
Eu diria até mais, e que tal mudar não só de imagem, mas também de suporte? Para quando o voto digital? Medo de quê? O voto é em papel e houve quem tivesse votado, antes de votar, ou então não...
Enfim, a análise que faço é que os designers fazem falta no círculo da política.
Fazem falta profissionais que consigam inventar o tempo, antever ou predizer o futuro, produzir novos conceitos, definir o quando, o como e o porquê!
Fazem falta profissionais da comunicação imagética.
Fazem falta novos Stuarts e novos Vilhenas.
Faz falta alguém que pense na imagem, na mensagem e talvez até... na manipulação das chapadas visuais que a política nos dá!
Director do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia