Marcelo 2021
Era um dos segredos mais mal guardados da política portuguesa e a coisa, a notícia, é mesmo muito pouco surpreendente. Há ainda assim uma justificação para o espaço que o DN dedica hoje às declarações de Marques Mendes ontem à noite na SIC, garantindo que Marcelo Rebelo de Sousa vai mesmo recandidatar-se a um segundo mandato. O comentador é conselheiro de Estado - onde entrou por escolha do Presidente - e o que diz sobre a Presidência ou sobre as posições do Presidente é sempre a segunda melhor opção, logo a seguir a um comunicado oficial.
Até agora, Marcelo tinha escapado à questão como podia, alimentando o tabu. Apesar desse tabu, o Presidente tem colocado duas condições para não se recandidatar: uma maioria absoluta do PS em 2019, argumentando que Belém perde relevância num cenário desses e um novo verão quente em matéria de incêndios e perda de vidas - um cenário encarado com um falhanço pessoal. Marques Mendes não valoriza este último ponto e coloca o debate no plano estritamente político. Diz o conselheiro que, seja qual for o resultado das legislativas de 2019, Marcelo será candidato a um segundo mandato em Belém. Com um governo de maioria relativa do PS, mantém-se o papel estabilizador do sistema que o Presidente desempenha atualmente, e, mesmo com uma maioria absoluta de António Costa, Marcelo teria de ser um garante do equilíbrio entre esquerda e direita. Está encontrado o argumentário com que Marcelo vai justificar a recandidatura? Muito provavelmente, sim.
Mas há uma outra dimensão bem mais prosaica de uma eventual recandidatura, ainda que totalmente legítima. Há um ponto na vida de cada Presidente, se quisermos de cada eleito para um cargo político relevante, em que se começa a pensar na história, na forma como se vai ficar "para a história". Ora, Marcelo Rebelo de Sousa tem desde o primeiro minuto do mandato um objetivo não escrito - e que talvez nunca venha a ser assumido: conseguir a reeleição, com o apoio do PS e com uma votação acima dos 70,35% e quase 3,5 milhões de votos de Mário Soares no momento da reeleição, em 1991. O plano exige de Marcelo um trabalhoso jogo de equilíbrios daqui até 2020, mas se há alguém capaz de o conseguir, é ele.