Voz de Portugal está mais forte

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As palavras do embaixador alemão por ocasião do dia nacional foram ditas em português, e por isso talvez valham ainda mais: Christof Weil declarou o respeito dos alemães pelos "dolorosos sacrifícios" dos portugueses durante a crise e congratulou-se pelo "excecional êxito económico" alcançado nos últimos tempos. Falou de Portugal como "país intrinsecamente europeísta" e dos dois povos como "amigos e parceiros de confiança".

Celebrada a 3 de outubro, a festa alemã assinala a reunificação de 1990 e Weil não deixou de relembrar como foi importante para os europeus o fim da divisão entre o Oeste e o Leste simbolizada pelo Muro de Berlim. Mas preferiu falar sobretudo do presente, não só da Alemanha como da Europa em geral. E deu a certeza de que o novo governo que Angela Merkel irá formar será "europeísta por princípio".

Ora, é no contexto da defesa da construção da Europa - neste tempo do brexit, de recusas a leste de acolher refugiados e da ascensão da direita populista na própria Alemanha - que os alemães redescobrem Portugal como um aliado de peso. Já se sabia isso pela boa relação que Merkel estabeleceu com António Costa (como antes com Passos Coelho), mais ainda pelo elogio de Wolfgang Schäuble (agora de saída das Finanças) ao "progresso impressionante" de Portugal.

Também não passou despercebido aos alemães o discurso de mão estendida para Merkel feito por Costa em Bruges, em setembro, na abertura do ano letivo do Colégio da Europa. Na cidade belga, o primeiro-ministro português defendeu uma reforma da Europa para contrariar o risco de estagnação e manteve-se firme na convicção de que ao rigor orçamental é preciso juntar políticas de promoção do crescimento que ajudem à coesão social. "Foi com grande apreço que li o discurso precursor do primeiro-ministro", realçou o diplomata. Também Weil falou de uma Europa que pratique a solidariedade.

Em síntese, "a voz de Portugal tornou-se mais forte", disse Weil, o que vale muito vindo do representante em Lisboa da primeira economia europeia. Mário Soares, que foi relembrado (assim como Helmut Kohl, outro grande europeísta que morreu há pouco), ficaria certamente satisfeito que Lisboa e Berlim, com atenção muito especial ao que quer a França de Emmanuel Macron, se entendam hoje na defesa da União Europeia.

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