O Zandinga voltou

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À medida que a poeira eleitoral assenta é possível começar a aflorar um conjunto de fenómenos mais ou menos engraçados. Um deles é a constatação que há mais "Zandingas" do que alguma vez imaginei.

A ironia sobre o "professor" que revolucionou a parapsicologia futebolística dos anos 80 deve ser já desmistificada: o resultado eleitoral em Lisboa não foi apenas uma surpresa para o incumbente. Foi-o para o Presidente do PSD, que a meio do discurso ficou atarantado, para os comentadores e para a população em geral.

Ora, se os "novos" bruxos já fossem famosos como Zandinga há muito que o espanto de Rio - e tantos outros - seria conhecido. Afinal, o seu candidato iria ganhar a presidência da Capital.

A segunda-feira passada provocou uma espécie de recuo até 2016, algures no Reino Unido. Nesse ano e em junho, o "Brexit" venceu o referendo que poucos achavam provável. Como se já não bastasse, em novembro de 2016, os Estados Unidos escolheram Trump como o seu presidente.

Nessa altura ouvia-se e lia-se em abundância algo semelhante ao que se vê e ouve atualmente nas televisões e jornais: como é que isto foi possível? A verdade é que foi. E mesmo sem aumentar o número votos, pelo menos de forma representativa, a vitória sorriu à coligação de direita.

É irreal repetir um ato eleitoral até que o resultado seja "agradável". A única forma para que outros não decidam arbitrariamente por nós é sair de casa e votar, mesmo quando os estudos de opinião são demasiado tendenciosos para um determinado resultado. É realmente questionável como é que esses são tão diversos ao longo das campanhas e tão "certeiros" na noite eleitoral.

As análises que podem ser discutidas sobre o que aconteceu na noite eleitoral são várias, assim como as causas. Dessas, há uma que não convence de todo: os 14 anos de governação em Lisboa. Há autarquias que não mudam há mais de 40 anos. É disso exemplo Alenquer (desde 76), havendo ainda outros casos como os de Cascais (desde 2001) ou Oeiras (desde 86).

A reflexão que deve permanecer é a do desafio e responsabilidade enormes que a governação da Cidade de Lisboa representa para todos os atores. Não é fácil gerir uma autarquia em minoria, tanto no Executivo como na Assembleia, mas a configuração política que o Povo atribuiu aos órgãos da Cidade deve ser respeitada.

O encargo não estará apenas no lado dos eleitos. Também os eleitores terão a sua quota parte. Caber-lhes-á avaliar e perceber o Delta entre as mudanças prometidas e os resultados finais da governação. Entre todas as frações haverá sem dúvida uma concordância absoluta: Lisboa e os seus cidadãos merecem o melhor.

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