O sermão
A viagem do Papa Francisco à "Terra de Abraão", rezando a Missa ao pequeno grupo de cristãos que sobrevivem à brutalidade do Daesh, não se limitou a mais uma vez surpreender o mundo com a visita que incluiu o agradecimento do Iraque, mas também gravar nas memórias do mundo em crise pela pandemia que não distingue nem etnias, nem culturas, nem poderes políticos, a sua não esquecível lembrança: "vós sois todos irmãos", como é o sentido do "Padre Nosso", isto é, Pai de "todos", e não apenas "Meu Pai".
É justo lembrar que, no que respeita à pregação, se ligue com o facto de que apenas os Papas de Roma foram convidados para se dirigirem à Assembleia Geral da ONU sobre a ética que deve ser apoiada pelo mundo, sendo evidente, para todos os representantes dos Estados membros, que são numerosas as Religiões do globo, hoje estando mais em perigo pelo ataque do Covid-19, do que pela competição dos Emergentes. E todavia já parece crescer a observação de que o desastre em curso não permite a certeza de que a estrutura jurídica da articulação dos Estados, quer nas Instituições como, por exemplo, a ONU e a UNESCO, conseguirão impedir a circunstância de obedecer aos factos contra a Utopia da fundação no fim da Segunda Guerra Mundial, entre sabedorias.
O regresso à importância da paz entre as Religiões, surpreenderá o pensamento de Ernest Renan que em 1848, vaticinava que a religiosidade do homem seria substituída pela ciência e pela razão. É oportuno recordar que foi pela guerra do Iraque que Hans Küng se dedicou, na sua longa e valiosa obra, se interessou ao cuidado para conseguir historiar "Como se chegou à Guerra do Iraque, escrevendo uma longa introdução que, como informa, foi frequentemente confirmada. Lembra, na síntese que traçou em poucas linhas do seu Islão - Passado, Presente e Futuro, traduzido para português por Luís Marques, e publicado pelas Edições 70 (2017), que procura resumir a sua longa inquietação com um resumo, que diz: "as opções são claras: ou a rivalidade entre religiões, choque de civilizações, guerra contra nações; ou um diálogo de civilizações e paz entre as religiões e as nações. Confrontado com uma ameaça letal para toda a humanidade, não deveríamos nós derrubar as muralhas de preconceitos, pedra por pedra, e erguer pontes de diálogo, incluindo pontes com o Islão, em vez de levantarmos novas barreiras de ódio, vingança e hostilidade?".
Aquilo que finalmente o leva à definição do processo necessário é simples de enunciar, mas a iniciativa do Papa Francisco tende para viabilizar, quando esgotado pela idade e pela saúde, e tendo sido chamado pelos cardeais que o foram buscar ao fim do mundo, declarou, em pública conversa, que não teme a morte, e que não voltará à sua Argentina, porque não terá oportunidade. As suas palavras de confiança na força do verbo sobre o verbo da força, dão finalmente sentido ao aviso divulgado pela certeza de Hans Küng. Não há paz entre Nações sem paz entre as Religiões; não há paz entre as Religiões sem diálogo entre as Religiões; não há diálogo entre as Religiões sem premissa de base nas Religiões".
Da própria ONU houve cooperação externa com as iniciativas de encontro nas instituições de fundo religioso, que são de interesse mundial, servido em mais de um encontro plural, conhecendo o pessimismo de Samuel Huntington que, com o seu "A clash of Civilization", prognosticou um conflito entre o Ocidente e o Irão, de que Ramses se interroga para 2021, com esta pergunta: Le Grand Basculement?. A intervenção, com sacrifício, do Papa Francisco, e o sentimento partilhado com o ainda mais envelhecido Ayatollah Ali al-Sistani, foi trabalharem juntos para eliminar "a opressão, a pobreza, e, em especial, as perseguições religiosas, as guerras, os atos de violência, os bloqueios económicos, e a deslocação de muitas formas desta região. "Vós sois todos irmãos". Mais de uma vez, os sucessivos Papas Católicos foram convidados a dirigir-se à Assembleia Geral da ONU, e ali esteve o Papa Francisco. E é nesta data em que a ONU apela à paz e cooperação dos Estados, para apoio aos mais necessitados povos, de qualquer etnia ou crença. De facto não existe lugar no mundo onde o povo possa supor que continue em vigor a hierarquia do passado, e que o que foi, no fim da Segunda Guerra Mundial, a proclamação da "terra casa comum dos homens", não esteja a ser secundarizada pelo ataque do Covid-19, da necessidade de defesa contra violências como em Angola e Moçambique, com a urgente capacidade de novas tecnologias, e visivelmente a aumentar a luta dos Estados pelo Direito internacional.
Foi urgente que fosse eleita a nova Presidência dos EUA para que a ONU voltasse ao respeito pelo princípio de cooperação global. Mas seria tempo de o encontro e colaboração das Religiões, tão filiadas na Nova Mensagem de Assis, aceitar que a pregação do Papa Francisco é a oportuna intervenção para que os povos aceitem e pratiquem que "são todos irmãos".