O risco da desinformação

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Há cada vez mais dados disponíveis, mas parece que são cada vez menos valorizados para formar opinião. As notícias falsas propagam-se 70% mais depressa do que as verdadeiras nas redes sociais, como mostrou há uns anos um estudo do MIT, sobre a plataforma Twitter (agora X).

Talvez comece a emergir a consciência deste problema, na medida em que a desinformação apareceu, no último Relatório do World Economic Forum, em 4.º lugar nos riscos mais importantes para o ambiente geopolítico em 2025, passando para 1.º lugar daqui a dois anos.

Há muitas maneiras pelas quais a proliferação de conteúdo falso complica o ambiente geopolítico, que vão desde as interferências estrangeiras nas eleições, às dúvidas que pode semear sobre o que está a acontecer nas zonas de conflito (ou mesmo à nossa beira), ou ainda como pode afetar a imagem de produtos ou serviços de outro país.

Esta praga que nos atingiu a todos parece pegar-se até a quem não se esperava. Se a realidade não está de acordo com o discurso popularmente assumido, em vez de se insistir na boa informação para mostrar que a perceção não está correta, seja ela sobre a criminalidade ou a imigração, afastam-se os números que a contrariam ou conta-se apenas uma notícia má para abafar a boa informação.

Veja-se o que aconteceu recentemente com os dados revelados pela PSP sobre a redução da criminalidade em Lisboa, incluindo da criminalidade violenta. Deviam ser apenas festejados como uma boa notícia, em especial pelo seu presidente da Câmara, que até já foi Comissário da Ciência da UE. Mas, pela sua reação, até parecia que os dados o desiludiram.

O sucesso da desinformação tem muitas explicações, que vão das bolhas das redes sociais sem contraditório, baseadas em algoritmos construídos a partir das nossas preferências pessoais, até ao facilitismo com que nelas se emite opinião. Ainda as caixas negras não tinham sido retiradas do Rio Potomac, depois do recente acidente aéreo, e já o presidente Trump apontava como culpados os funcionários do controlo aéreo contratados pelo presidente Obama.

Porém, se o diagnóstico sobre a ameaça da desinformação está feito, os remédios não são fáceis de encontrar. Uns, porque são de longo prazo, como a educação, o estímulo ao pensamento crítico e a literacia mediática para verificar a autenticidade dos factos. Outros exigem que as plataformas avaliem e mitiguem o risco da desinformação, sem pôr em causa a liberdade de expressão, como está previsto na legislação europeia. Estão pouco para aí viradas.

Enfim, o problema da desinformação não se vence com uma só medida, nem de um momento para o outro. Exige uma visão holística e o empenho de muitos atores públicos e privados. O pior é quando os mais poderosos são os beneficiários dela e os governantes optam por a instrumentalizar, em vez de a combater.

Ex-deputada ao Parlamento Europeu

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