As dificuldades que Portugal enfrenta na utilização de fundos europeus veio de novo à baila a propósito da proposta de reprogramação dos fundos do PRR que o Governo apresentou à Comissão Europeia.Ao constatar o risco de se perderem verbas do PRR por não serem utilizadas dentro do prazo previsto, o Governo optou por desistir de investimentos que estavam previstos em áreas como a habitação, a gestão hídrica ou a mobilidade e transportes, canalizando essas verbas para outros fins e outras tipologias de investimento.Desiste-se de investimento que implique construção de infraestruturas e opta-se pela aquisição de equipamento.E fazem-se essas opções sem questionar as razões que estão por detrás das dificuldades de planeamento ou execução dos projectos inscritos no PRR.Esta situação é consequência directa das políticas que durante décadas têm fragilizado e exaurido os recursos da Administração Pública e destruído os sectores produtivos nacionais.A fragilização da Administração Pública aos seus vários níveis arrasta atrás de si o estado de carestia em que Portugal se encontra em termos de capacidade de planeamento e programação do investimento. Da identificação das prioridades de investimento à preparação de projectos com avaliações prévias credíveis são inúmeras as dificuldades com que o País se debate, seja no sector público, seja no sector privado.O desprezo pelos sectores produtivos e o afunilamento económico no sector dos serviços tem como consequência a inexistência de capacidade produtiva em diversos sectores, determinando que na execução do investimento a incerteza seja o factor mais certo com que se pode contar. Concursos que ficam desertos ou a que apenas se apresentam empresas multinacionais, revisões de preços, empreitadas abandonadas sem conclusão não são, infelizmente, casos raros.Mesmo que numa lógica de estrita preocupação imediata com o aproveitamento das verbas do PRR que Portugal tem à sua disposição, faz mais sentido que o País se bata pelo alargamento do prazo para utilização dos fundos do PRR.Foi nesse sentido que apresentei, em nome do PCP, uma proposta de resolução individual ao Parlamento Europeu defendendo a extensão do prazo dos fundos do PRR de 2026 para 2028 e a reconsideração das condicionalidades a que esses fundos estão sujeitos e que limitam as possibilidades da sua utilização.Essa proposta não dispensa a necessidade de repensar e reverter as políticas que têm retirado ao País os instrumentos necessários à definição de prioridades de investimento e à capacidade de assegurar a sua execução. Mas com ela evita-se que o País veja a utilização das verbas do PRR pelo canudo da opção de se gastar o dinheiro naquilo em que é mais rápido gastar em vez daquilo em que essas verbas fazem mais falta.EurodeputadoEscreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico