O primeiro-ministro que foge

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Ao longo dos anos, António Costa desenvolveu a arte de fugir às questões, evitando responder. O que, além de uma tentativa de se esquivar dos problemas, é uma forma de fugir à realidade.

Isto ficou patente no debate parlamentar da semana passada. Entre as perguntas que lhe foram feitas pela oposição, designadamente pela Iniciativa Liberal, deixou quase todas sem resposta.

Por exemplo, estas:

-- Face às críticas tornadas públicas pelos municípios, vai recuar nas anunciadas medidas contra o alojamento local?

-- Como é que em 2015 defendia ser prioritário que a TAP fosse empresa pública e hoje é prioritário que a TAP volte a ser privada?

-- Vai devolver aos portugueses o dinheiro que pagam pelos transportes públicos correspondente aos numerosos dias de greve?

Não é nova esta característica do primeiro-ministro. Mas aumentou desde que o PS tem maioria absoluta. Quando as dificuldades se transformam num problema, ele nada diz, desvia o assunto, encontra sempre um bode expiatório, passa as culpas para os outros. É assim com a baixa execução dos fundos europeus do PRR, com a cativação das verbas destinadas à manutenção do equipamento militar, com o número crescente de portugueses sem médicos de família ou com os serviços públicos em colapso. Não só na saúde, mas também na educação, nos transportes ou na justiça.

Neste seu oitavo ano como chefe do Executivo, ainda se desculpa com aqueles que o antecederam na governação para justificar a sua própria incapacidade para cumprir elementares promessas feitas como candidato e já como primeiro-ministro. Desde a afamada "devolução de rendimentos" num país como o nosso, prestes a ser ultrapassado pela Roménia no PIB per capita, até ao reforço do investimento público que nunca saiu do papel. Passando pela reforma estrutural das florestas, a tal que seria "a maior de sempre desde D. Dinis", até à garantia de que no final desta legislatura o peso dos salários na economia portuguesa seria "correspondente à média da União Europeia", quando sabemos que essa meta está hoje ainda mais distante e o peso da massa salarial até diminuiu em 2022.

Há um ano, naquele seu estilo de empurrar os problemas com a barriga esperando que as coisas se resolvam por obra do acaso, António Costa garantia que a inflação era um incómodo passageiro. "Portugal está neste momento a viver um pico extraordinário de inflação que não vai ter continuidade", dizia em Abril. Previu uma inflação de 4% para 2022. Estava, como acontece quase sempre, longe da realidade. O valor real foi de 7,8%. Aumentou para 21% só no cabaz alimentar, agravando ainda mais o precário poder de compra dos portugueses.

Por tudo isto, o primeiro-ministro detesta ser confrontado com perguntas incómodas. Sabe que os factos concretos teimam em contrariá-lo. António Costa imagina-se como chefe de um país povoado de sucessos sociais e económicos. Mas a realidade que os portugueses bem conhecem desmente-o todos os dias. Num país que vive há duas décadas em estagnação permanente, que regista o maior rácio de emigrantes na União Europeia face à população residente e viu os trabalhadores licenciados perderem quase 8% do salário real em 14 anos.

É, infelizmente, o retrato real deste país cada vez mais vulnerável e empobrecido. Nada a ver com a estampa cor-de-rosa da propaganda socialista.

E quando temos um primeiro-ministro que foge de perguntas, foge de problemas e foge da realidade, não admira que se conjecture que ele se prepara para fugir assim que uma porta se abrir.

Deputado Iniciativa Liberal

Escreve de acordo com a antiga ortografia

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