O poder de uma Conjura

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Foi há 384 anos, num dia 1.º de Dezembro, que uma conjura de alguns homens retomou o curso de um país inteiro.

Mais do que recuperar a independência e autonomia face a Espanha, este episódio demonstra a tenacidade e a grandeza dos portugueses perante jugo estrangeiro.

Aquele povo a que se atribui a César o título de que “não se governa, nem se deixa governar”, afinal, sabe quando é o momento certo para tomar o controlo do seu percurso. Um grupo de “homens-bons” escolheu o seu líder, o seu rei, para comandar um país desgastado e sem a glória de outros tempos.

Todos os anos há quem se junte para comemorar esse acontecimento e celebrar a independência portuguesa, a soberania, mas também o valor, a coragem, a luta dos portugueses para quem a liberdade é maior e mais importante que a própria vida.

Todos os anos, Dom Duarte de Bragança, descendente e representante da dinastia que retomou as rédeas do destino de Portugal na pessoa de D. João IV, faz uma alocução que é um verdadeiro discurso de Estado, em jeito de balanço anual, destacando as maiores preocupações.

Não raras vezes, como aconteceu este ano, fala, por exemplo, do importante trabalho do arquitecto Ribeiro Telles nas políticas que deveriam ser implementadas em Portugal para controlo das florestas e combate aos incêndios. Infelizmente, década após década, tarda em se concretizar. Como um país eternamente adiado, ou do improviso sem fim.

Talvez o preconceito relativamente àquilo que cheire a monarquia seja maior que o discernimento de olhar para o que dizem e o que fazem e aproveitar as boas ideias. Quantas vezes se chamou a atenção para as necessárias políticas de natalidade? E agora começa-se a acordar para o dito turismo de Saúde e nascimentos inflaccionados de quem vem aqui ter filhos e se vai embora.E as condições para os portugueses terem, verdadeiramente, os seus filhos? Educá-los?

Quantas vezes se alertou para o problema da imigração desenfreada, neste momento, na ordem do dia? E quais são as respostas aos vários problemas estruturais que o país enfrenta?

Entretanto, perdem-se em tarjas lançadas e esvoaçando de janelas, bandeiras palestinianas no Castelo de S. Jorge ou se enamoram de um qualquer D. Sebastião-messiânico-da-Marinha.

Talvez chegue o momento de se perceber que tapar os olhos com a venda de preconceitos ideológicos prejudica mais o país do que as políticas partidárias.

Encarar os problemas e pensar em soluções a longo prazo, não em ciclos quaternários, será a acção necessária.

Há a esperança secreta de que, de tempos a tempos, conjurados se levantem, mostrem o poder de uma conjura, tomem conta novamente dos destinos. E se isso não acontecer? Fica-se com um país adiado. E, como diria Pessoa, falta cumprir-se Portugal!

Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico.

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