O paradigma da escala

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Ultimamente não tem havido associação ou instituição que não tenha atacado a falta de escala das empresas portuguesas e feito soar os alarmes clamando por ação. Têm razão, mas ainda não se viu um plano pragmático. Nem a resposta às duas questões de base - onde estamos e como podemos concretizar um aumento de escala significativo e rápido, sobretudo sobre as médias empresas.

Primeira questão: onde estamos ? Tomemos um rácio simplista ... mas nestas coisas mais vale não complicar. Cruzando informação da UE e do Financial Times  para 2022, nas quatro maiores economias europeias bastam 26 a 27 empresas para criar 10M€ de PIB - enquanto que Portugal precisa de 35,8 empresas para atingir o mesmo nível de PIB.

Este indicador muito simples coloca-nos na 16.ª posição da UE-27, abaixo da média e muito atrás de países improváveis com população próxima ou inferior à nossa como a Bélgica (17,5), a Grécia (19,3), a Dinamarca (22,8), o Chipre (32,7) ou a Estónia (34). A escala das PME portuguesas e o seu crescimento em direção ao escalão das grandes empresas está na cauda da Europa - e o atraso na construção de escala é cada vez maior.

Pior ainda. No rácio anterior a média europeia está em 25,7, mas os EUA, com 20.000 grandes empresas, batem de longe este valor com 7,3. Uma diferença abissal que mostra que se subirmos uns lugares no ranking europeu tão pouco é grande razão para celebrar.

Segunda questão: como crescer? As maiores empresas nacionais e internacionais ganharam escala por crescimento endógeno ao longo de muitos anos … será o caminho para as médias empresas?

Entre 2020 e 2022 o tecido nacional cresceu 15 a 16% (INE). Não é mau, mas não chega. Falta de ambição, de capital ou de capacidade de inovação? Seja o que for, não está a funcionar. Precisamos de escala rápida e, para isso, há há três vias: aquisição, fusão ou acolher fundos de Private Equity.

São raríssimas as aquisições significativas feitas por empresas nacionais nos últimos anos e as fusões deverão andar próximo de zero. Restam os fundos. Relutância de venda de capital à parte, é uma solução inteligente como a Logoplaste e outras empresas de referência têm demonstrado. Exige consciência do contexto, ambição, confiança, capacidade negocial e visão de longo prazo. E afastar tabus.

A solução da falta de escala não passa por soft mentoring, nem por uma política de incentivos tradicional. Passa por estimular uma mentalidade de liderança pragmática e corajosa com incentivos cirúrgicos.

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