O país não está inseguro. O país não está violento

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O barómetro da Aximage que publicamos nesta edição pode ajudar a centrar alguns discursos políticos relativamente à segurança do país, à perceção dos portugueses e ao que deve ser a prioridade de quem governa. Passando por cima da conclusão que chamámos para a capa e em relação à qual a ironia vale por si só, e nem é preciso explicar porquê - “os eleitores do Chega são dos que menos confiam nas polícias” -, coloquemos o nosso foco noutros factos relevantes.

O mais importante é que 81% dos inquiridos se sente seguro e muito seguro quando anda sozinho na sua área de residência. A percentagem desce um pouco quando esse “passeio” é à noite: 66%. Ainda assim é uma maioria significativa. Depois, temos 64% dos inquiridos que revelam um grau de confiança grande e muito grande nas Forças de Segurança, PSP e GNR.

Ao mesmo tempo, quando questionados sobre a avaliação que fazem da relação entre as forças de segurança existentes e as necessidades da população, 75% diz que são insuficientes, principalmente na periferia dos centros urbanos (44%) e nos centros urbanos (41%). A solução é, para 71% dos inquiridos, aumentar o número de efetivos e para 38% fornecer mais meios técnicos. Aliás, a videovigilância nas ruas é considerada importante e muito importante por 94 % dos portugueses.

Há cerca de duas semanas causou controvérsia uma aparatosa operação policial no Martim Moniz. O Ministério da Administração Interna afiançou que se tratava de uma “campanha de fiscalização, denominada Portugal Sempre Seguro, para aumentar a segurança dos cidadãos”. A ministra Margarida Blasco, disse que “a divulgação das operações e dos resultados pretende reforçar a perceção de segurança no país”.

Passado uns dias, ouviu o comandante-geral da GNR, Rui Ribeiro Veloso, a anunciar, com satisfação, numa conferência na Academia Militar, que “ao longo deste ano, até outubro, nas áreas de responsabilidade da Guarda, os registos da criminalidade geral apontam para um ligeiro decréscimo, relativamente ao ano passado”.

No dia a seguir, o comandante do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, o maior do país em termos de criminalidade e população, sublinhou que “os dados estatísticos da criminalidade “não correspondem ao sentimento de insegurança” difundido na opinião pública, avançando que nesta região os crimes violentos estagnaram este ano.

“Ao comparar os primeiros 10 meses de 2023 e de 2024, a criminalidade geral na área do Comando Metropolitano de Lisboa diminuiu 9,4%, quanto à criminalidade violenta e grave decresceu também ligeiramente cerca de 0,2%, o que representa uma estagnação”, disse o superintendente Luís Elias.

Ontem, foi o próprio primeiro-ministro, Luís Montenegro, a sublinhar, na cerimónia de tomada de posse do diretor nacional da PJ, Luís Neves, e do diretor-geral da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Orlando Carvalho, que “temos razões para dizer alto e bom som que somos um país seguro, um dos mais seguros do mundo”. Admitindo preocupação com o aumento de alguns fenómenos criminais, como a delinquência juvenil ou a criminalidade grupal, a corrupção ou o tráfico de droga, assinalou que “um dos maiores fatores de competitividade que o país tem é ser seguro, e é seguro porque temos pessoas e instituições habilitadas, qualificadas, para poder garantir essa segurança”.

Há quem diga que se repetirmos muitas vezes a mesma coisa ela se torna verdade. Porém, essa suposta verdade não é a realidade. E o Governo deve decidir qual é a sua verdade. Se a real, se a artificial. Se temos um país onde impera o medo e a insegurança, como insistem, até à náusea, certas narrativas. Ou um dos mais seguros do mundo. Manter a confiança dos cidadãos nas suas forças de segurança é essencial, fazendo com que tenham o básico, como condições de trabalho dignas e instalações dignas - que sejam vistas como o rosto da autoridade do Estado quando cumpre uma das mais nobres missões, pilar da nossa liberdade: a proteção de todos nós.

Diretora-adjunta do Diário de Notícias

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