A respeito da discussão sobre o "novo aeroporto de Lisboa" (NAL), o presidente da CM de Lisboa veio afirmar que "o [NAL] tem de estar em proximidade de Lisboa", uma vez que "essa proximidade é extremamente importante para o turismo em Lisboa". Segundo C. Moedas, o primeiro-ministro ter-lhe-á garantido que "terá um lugar na mesa das decisões sobre o novo aeroporto". O atual presidente da CM de Lisboa sabe bem que o NAL é relevante para todos os concelhos da Área Metropolitana de Lisboa (AML). Recorde-se que Lisboa tem 544.000 residentes. Sintra tem 385.000 habitantes. Cascais 214.000. O presidente da CM de Sintra também deve reivindicar "ter um lugar à mesa"? E os de Cascais, Amadora, Oeiras, Loures, Odivelas, Almada, Montijo, Seixal, Setúbal? Não faria mais sentido "ter à mesa" um representante da AML que se articulasse com os responsáveis de todos os municípios?.Há muito que a desigualdade entre municípios na AML é notória. Um bom exemplo é o setor hospitalar. Em 2020, Lisboa tinha 33 hospitais; Cascais tinha 6, Sintra 5, Setúbal 4, Amadora e Oeiras 3 cada e Loures 2. Excluindo os do setor privado, Lisboa tinha 17 hospitais, Oeiras e Setúbal 2 cada, Cascais, Loures, Montijo tinham 1 cada e Sintra tinha 0 (zero). Considerando as populações respetivas, é evidente que o Município de Lisboa beneficia de recursos hospitalares - sobretudo os pagos pelo Estado - completamente desproporcionais relativamente a outros municípios da AML..Também em relação ao Metro, anteriores presidentes do Município de Lisboa pretendiam que a empresa pública "Metropolitano de Lisboa" passasse para o Município de Lisboa, apesar de o metropolitano já chegar então até à Amadora Este e Odivelas e de os transportes públicos coletivos serem manifestamente um problema da AML; milhões de pessoas com baixos rendimentos vivendo fora do Município de Lisboa necessitam de transportes públicos coletivos nas ligações entre zonas na AML. Nem mesmo com a constituição, entretanto, da "Transportes Metropolitanos de Lisboa" (TML), entidade gestora pública dos meios de transporte para a AML dependente da entidade intermunicipal Área Metropolitana de Lisboa, [o Município de] Lisboa delegou nesta as suas competências. O grosso do planeamento e despesas do "Metropolitano de Lisboa" continua a ser dentro da cidade de Lisboa e não nas interligações com / entre os concelhos limítrofes..Entretanto, os dados do "poder de compra per capita", mostram que, em 2019, Lisboa tinha um poder de 205, enquanto que Sintra tinha 93, Odivelas 88, Seixal 91, Amadora 100, Cascais 118. Cruzando os dados da assistência hospitalar e da cobertura de transportes públicos coletivos com os do poder de compra, constata-se que a injustiça social subjacente é gritante - as zonas da AML com pessoas mais pobres são marginalizadas pelo SNS, pelo Metropolitano, pela Carris..Os presidentes do Município de Lisboa tendem a esquecer-se, mas é importante relembrar-lhes, que ali vivem apenas 18,9% dos 2.869.627 residentes na AML. De C. Moedas, um governante com provas dadas em pendor executivo e bom senso, espera-se uma postura abrangente em relação à AML e uma intervenção séria e competente na análise da localização do NAL e da logística associada..Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira