O legado das guerras
Comecei a escrever, e a juntar, estas notas de memórias desarticuladas no dia 1 de janeiro de 2013, quando os meios de comunicação, sobretudo aqueles que por tradição animavam os festejos da esperança em melhor ano, se mostraram incapazes de esconder a imagem do desânimo que invade os ocidentais, envolvidos por uma crise financeira, económica, e social, sem precedente próximo. Tinha havido o que foi chamado a europeização do globo, e estamos neste milénio a recordar as palavras de Disraeli, segundo o qual "não podemos enganar-nos, porque estudámos o passado e é bem conhecida a nossa capacidade de revelar o futuro quando este já ocorreu".
Tivemos uma época de triunfo da prospetiva que, por via da economia, acabou por confiar à estatística, sem consentimento desta, a tarefa da adivinhação, para nos encontrarmos finalmente naquilo que Humphrey Jennings intitulou Pandemonium, com todos os valores tradicionais em crise, tendo, como foi observado, a emancipação e o prazer como objetivos, afastando para a lonjura possível as preocupações com as humanidades, sem perder o interesse laico pelas hipóteses da criação do universo e da origem da vida. Todavia, sem grande interesse no apoio que poderia ser encontrado, para modelar um novo futuro, na meditação do percurso de séculos da ocidentalização do mundo, e do conhecimento dos incidentes e acidentes do percurso até aos anos da decadência em que nos encontramos ao entrar no século XXI.
Infelizmente, embora tenha acrescentado à escrita o anúncio de um general francês sobre o dia do fim da guerra de 1939-1945, que lera num jornal, como anunciando um "dia de alegria, coberta de lágrimas", a infeliz evolução é que os espíritos são atacados pelo regresso dos dias em que se multiplicam formas agora mais frequentes que fazem lembrar dos que agravaram os combates do passado, e agora com o próprio planeta, não se evitam as ameaças do saber e da técnica, que parecem facilitar a contradição das etnias, das culturas, e da sonhada solidariedade global. Embora a criminosa guerra e seu conteúdo e formas, assumidos pela criatividade nazi, e a Paz não tenha do passado a união da prometida unidade das espécies, nações e até paz dos regimes políticos, diferenciados, a vigilância e dever de garantir a segurança e paz, e a esperança de entendimento para o globo pacífico, embora levando algumas à manutenção da NATO, cuja época não ignorou conflitos sérios, nem o avanço da deterioração dos princípios da "Terra casa comum dos Homens", sendo estes obrigados a enfrentar que a igualdade desses homens seja ferida por constante violações.
O notável René Rémond julgou certo proclamar que o próprio Ocidente e sobretudo a França que "gradualmente a partir da diversidade das nações", pela livre negociação entre Estados, sobre a base de igualdades, entre todos os parceiros, com aprovação dos parlamentos e adesão das opiniões publicas pelo sufrágio de todos têm diminuído. Este último capítulo de uma histórica conclusão não é o menos afetuoso nem o menos grave de consequências. Parece uma esperança duvidosa, sobretudo avaliando a história de uma França, mas os noticiários, não apenas sobre as guerras desencadeadas pela covid-19, a situação de exigência da segurança da União Europeia, a política internacional, equívocos, mas certamente ocupando o espírito obrigatório dos governantes pelo menos no plano mais importante, dos EUA intervenientes decididos, da Rússia, que na base da atitude, afastou a aceitação do estalinismo, no que faz parecer o recurso ao histórico valor da 3.ª Roma, tudo fez que a evidência do aviso francês do dia de alegria e lágrimas, tem a validade final do conceito com mais lágrimas. Toda a vasta e confiada lembrança do fim do leninismo, está a demonstrar que está a enriquecer o valor do novo conceito histórico. Não se trata apenas de ignorar a ONU, tratados de paz e direitos. É regresso ao poder entre os aristocratizados Estados de direito de veto, que o recente presente mostrou que pode ser ignorado. É extremamente violável de direitos internacionais em vigor, que estejam a ser violados na relação entre um grande e um pequeno país, acrescentando que a Rússia também tem o poder de veto no Conselho de Segurança. Mas também o tinham a Inglaterra e a França, proprietárias das ações da empresa dona do canal de Suez, quando resolveram enfrentar a política de Nasser, do Egito, para nacionalizar o canal. Foram ambas condenadas pelo Conselho de Segurança, retirando-se da ação e os ministros responsáveis tiveram de fazer o mesmo. O que significa começar a não esquecer que a ONU, quando não avalia terem ficado sem aceitar as palavras da direção da ONU, a autoridade do conselho não pode ser ignorada.
As ameaças e os riscos ultrapassaram quer o respeito pela ordem internacional, que também é igual para as nações e Estados, mas o Conselho de Segurança continua inativo. A aristocratização dos países com direito de veto, que fez esquecer a igualdade que reina na UNESCO não pode ser invocada pelos violadores.