O julgamento da democracia
Esta semana começou o julgamento do século. Ricardo Salgado no banco dos réus, depois de uma década de investigação, na sequência da queda do BES. Durante uns dias ou semanas, a imagem será de que um poderoso se senta (finalmente) no banco dos réus. Contudo, com os expedientes dilatórios, demora no julgamento e infindáveis recursos que se seguirão, receio que a imagem que os portugueses têm da Justiça não sairá alterada. A ideia de uma Justiça lenta e à qual os poderosos conseguem escapar perdurará. As prescrições a caminho, as condenações em praça pública que se cristalizam, a consolidação da imagem popular de uma Justiça que não é cega.
A degradação da imagem da Justiça não é uma realidade apenas portuguesa. Lançamento de suspeitas e investigações mediáticas contra políticos com base em nada, temos tido vários exemplos aqui na vizinha Espanha. Muito do que se passa em Portugal é comum a outras partes da Europa ou aos EUA.
Julgo que o crescimento recente dos populismos nas democracias, a história que se seguiu ao “fim da História”, começou como reação à crise financeira de 2008 e à forma como a ganância de alguns infligiu sofrimento a tantos, e pela qual tão poucos dos responsáveis acabaram por pagar. Essa também é a história do BES.
Foi essa talvez a primeira grande falha sistémica das instituições democráticas no século XXI.
Outra grande falha das democracias esteve esta semana em destaque no debate público em Portugal, em virtude da desastrada intervenção pública do primeiro-ministro, em que decidiu “puxar os auriculares” aos jornalistas, num exercício desastrado de condescendência onde ele menos devia ter lugar.
Veio tal intervenção a pretexto da apresentação de uma proposta de reforma da comunicação social, nomeadamente quanto ao seu financiamento, que é necessária, mas que foi assim lançada para debate público da forma mais disparatada possível.
É certo que a comunicação social podia ter feito um favor aos portugueses e a si própria, instigando o debate do essencial da proposta e não se focando na desastrada conversa de auriculares do primeiro-ministro.
A verdade é que os regimes democráticos só funcionarão plenamente com um poder executivo e legislativo (e, já agora, uma Administração Pública) competentes, um jornalismo de qualidade e independente, e uma Justiça cega e operante.
O século XXI tem sido de muita destruição das condições de exercício de funções públicas, mas também de degradação da qualidade da comunicação social, uma e outra a par (e como consequência) do nascimento de novas formas de comunicação não-intermediada através das redes sociais. Os populistas têm sido muito competentes no aproveitamento destes instrumentos para degradar o funcionamento das democracias.
Os poderes democráticos têm de ser competentes na reforma das instituições, incluindo na regulação destes novos instrumentos de comunicação, se querem obviar à destruição gradual das próprias democracias. Copiar a extrema-direita, com o seu discurso contra as instituições, xenófobo e securitário, não salvará as democracias, antes as minará de um modo permanente. Mas nada fazer, não é uma opção.
18 valores: Rafael Nadal
Esta semana, o tenista espanhol anunciou o fim da sua carreira, após a Taça Davis. Um exemplo de abnegação, o touro de Manacor inspirou uma geração de amantes do desporto. A força e a resistência que sempre empregou nos courts de ténis, em particular na terra prometida de Roland Garros, fizeram dele uma inspiração para milhões de jovens que com ele souberam que só no dicionário Sucesso vem antes de Trabalho.