O inesperado aumento de investimento chinês na Europa

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De acordo com um recente relatório do Rhodium Group e do MERICS, pela primeira vez desde 2016, em 2024 o investimento direto chinês no estrangeiro (OFDI) na UE e no Reino Unido atingiu os 10 mil milhões de euros (mM€), um aumento de 47% face ao ano anterior. Além disso, a Europa manteve-se como o principal destino do investimento chinês em economias de rendimento elevado, atraindo 53,2% de todo o OFDI chinês nestes mercados. Em 2024, a quota da UE e do Reino Unido no total do OFDI chinês também aumentou para 19,1%, o primeiro aumento significativo desde 2018 (embora a larga maioria do OFDI chinês continue a ir para economias de rendimento baixo ou médio, nomeadamente no SE Asiático).

Este incremento é impulsionado quer por investimentos greenfield recorde, quer por fusões e aquisições (M&A) mais fortes. O investimento greenfield cresceu pelo terceiro ano consecutivo, aumentando 21% em termos homólogos e atingindo um recorde de 5,9 mM€, mantendo-se como a principal forma de investimento chinês na Europa. Também se registou uma melhoria nas M&A, que aumentou 114% em termos homólogos, para 4,1 mM€.

A Europa Central e a de Leste atraíram >50% do OFDI chinês na Europa. Verifica-se uma forte diminuição da quota combinada dos “Três Grandes” destinos de OFDI tradicionais na Europa – Reino Unido, Alemanha e França – para apenas 20% (média de 52% entre 2019 e 2023).

A Hungria mantém-se como principal destino (31% de todo o OFDI chinês na Europa), impulsionada por projetos greenfield intensivos em capital.

Os investimentos de empresas chinesas na Europa continuam concentrados em poucos setores, com ênfase [em novos investimentos greenfield] na produção de veículos elétricos (EV) e no armazenamento elétrico.

Porém, o stock total de OFDI em EV da China continua a ser pouco significativo em comparação com o stock total de OFDI na Europa.

Por outro lado, embora a China esteja a emergir como um investidor líder em certos países (como a Hungria), os investimentos provenientes de outros países europeus, dos EUA e da Coreia do Sul ainda são claramente superiores ao OFDI chinês.

É possível que esta tendência de crescimento de investimento chinês na Europa se mantenha em 2025, mas verifica-se alguma desaceleração do OFDI chinês nos EV. Algumas grandes transações de M&A em 2025 poderão levar a um novo incremento, e o OFDI greenfield deverá manter-se estável, com duas fábricas de baterias para EV (uma sendo a da CALB, em Sines) com início de construção confirmado para 2025. No entanto, o cancelamento de três grandes projetos de baterias para EV levanta questões sobre a tendência para o aumento do OFDI chinês na Europa. Esperemos que a próxima 25.ª Cimeira EU-China (em julho de 2025) ajude a criar condições para que aumentem os investimentos nas duas direções.

Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira

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