O Governo e a Festa do Pontal. É preciso fazer o que ainda não foi feito!

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O título deste artigo não desvaloriza o que o Governo fez até ao momento, desde que foi eleito. O que fez foi bastante, na resolução de problemas sociais resultantes da trágica herança deixada por António Costa, nos seus oito anos de governação. Sim, sabemos que o que foi feito dá trabalho. Professores, militares, polícias, oficiais de Justiça, guardas prisionais. Não desvalorizamos este trabalho de Luís Montenegro na reposição de uma actualidade e justiça social, absolutamente necessárias para trazer a paz à sociedade portuguesa.

Mas a resolução destes problemas não pode ser considerada uma acção estrutural. São actos administrativos da área social, sem dúvida de resolução difícil e envolvidos em tensão negocial, mas estão longe de poderem ser classificados de medidas estruturais, como quis dizer Luís Montenegro na Festa do Pontal.

Na verdade, não é possível exigir muito a um Governo que tem uma duração de quatro meses. Quem conheça, minimamente, o funcionamento de um Governo Central sabe as dificuldades que envolve um processo de negociação salarial, sobretudo estando em causa vários grupos de actores sociais.

Assim, continuamos a ver em Luís Montenegro uma vontade de mudar o país com a introdução de alterações estruturais, mas isso não ficou visível na intervenção que o primeiro-ministro fez em Quarteira.

Não adianta Luís Montenegro seguir a cartilha de Costa, apresentando elementos estatísticos, como fez em relação ao sistema de atendimento da linha telefónica das grávidas. Não vá por aí, dr. Luís Montenegro, não copie os dias negros de Costa quando nos enchia de estatísticas que depois eram contrariadas pela realidade. Para os portugueses interessa pouco se houve um atendimento telefónico a vinte e oito mil grávidas, quando continuam a existir mulheres que têm de fazer duzentos quilómetros para serem assistidas no parto.

A intervenção do primeiro- ministro no Calçadão de Quarteira, foi um balanço de quatro meses de resolução de problemas sociais, mas foi apenas isso.

Para lá disto, ficou a afirmação de uma absoluta necessidade da abertura de mais vagas na formação de novos médicos no sentido de suprir as carências que vão verificar-se nos próximos anos e um aumento extraordiário de pensionistas em Outubro próximo, numa cópia a papel químico do que Costa fez em 2022.

Esperávamos mais desta Festa do Pontal. Esperávamos ouvir o primeiro-ministro falar de demografia, de medidas estruturais para combater a desertificação do interior, de uma acção concertada para reformar o aparelho de Estado e cortar nas “gorduras” que por lá existem. Queríamos ouvir o primeiro-ministro anunciar medidas para a Justiça que fossem muito além de um simples reforço do seu quadro de pessoal.

Gastar dinheiro é fácil! Gostávamos de ter escutado o primeiro-ministro falar de medidas ambientais que fossem muito mais do que a simples criação de um passe mensal para andar nos comboios lentos e envelhecidos da nossa ferrovia. Uma palavra sobre a escola, os programas escolares, a valorização da escola, a importância do ensino no desenvolvimento dos jovens era, também, bem-vinda. Ou da indústria, ou das novas tecnologias, ou ainda de mais e melhores medidas do Executivo para a captação e fixação de empresas internacionais no nosso país.

Ou seja, é preciso que o Governo pense em fazer o que ainda não foi feito. Sim, nós damos o benefício da dúvida. Sim, nós sabemos que ainda só passaram quatro meses. E que ali era a Festa do Pontal e o José Cid estava à espera para o momento musical pimba.

E reparámos, também, que a inexistência de qualquer referência do primeiro-ministro ao Orçamento do Estado foi uma maneira hábil de retirar tensão política e dramatismo à futura aprovação, ou não, daquele importante documento. Percebemos! As discussões vão ficar, sobretudo, para o silêncio e o remanso dos gabinetes.

Cumprida mais uma rentrée política lá teremos de ficar à espera da Festa do Pontal do próximo ano para sabermos novidades a sério, se ainda tivermos Governo e este tiver decidido, finalmente, fazer o que ainda não foi feito.

Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico.

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