O fim do Macronismo
Emmanuel Macron foi eleito em 2017 com a promessa de sair da dualidade esquerda/direita e assim reformar a França. Na altura pareceu um presidente jovem, aberto sobre o mundo, especialista nos equilíbrios financeiros. A sua reeleição em 2022 já foi muito renhida, face a Marine Le Pen, e não conseguiu maioria na Assembleia.
Domingo passado surpreendeu a França ao dissolver a Assembleia da República. Escolheu o prazo mais curto, 20 dias, na esperança assumida de semear o caos nos partidos da oposição. Foi exatamente o oposto do que Marcelo Rebelo de Sousa fez em Portugal, dando tempo aos partidos para construir alternativas e preparar eleições serenas.
Diz Sarkozy, que até agora o apoiou: “receio que a sua inclinação para acreditar que a sua inteligência lhe permitirá contornar as contradições nacionais o leve a não as resolver”. E continua: “não consegui convencê-lo de que a matriz política da França é identidade, segurança, autoridade. Não corresponde à natureza de Macron. Ora, não se muda o povo, é sempre ele que tem a última palavra”.
Assim vai ser nas próximas legislativas, o número de deputados macronistas vai ser muito pequeno e Macron vai ter de presidir com um governo de coabitação, dominado pelo RN. Não faz dos franceses uns xenófobos, racistas, eurocépticos. Nada disso. Os franceses somente querem que a representação nacional tome em consideração as suas preocupações.
A mais recente batalha do macronismo foi fazer da França o primeiro país do mundo a constitucionalizar o direito ao aborto. O objetivo assumido era conseguir dar um exemplo ao mundo. Este direito nunca foi posto em causa em França, trata-se de pensar que a França, agindo assim, consegue influenciar alguns estados regressivos nos EUA, ou em alguns outros países. Não sou evidentemente contra este direito, nem os franceses. Mas esta batalha não resolve nenhuma dificuldade concreta em França.
Identidade: hoje, a nossa bandeira nacional é associada à extrema-direita. Os partidos da esquerda têm receio de mostrá-la, desertam das comemorações patrióticas. Celebrar a grande nação francesa, os nossos autores, o contributo das Lumières, é incompatível com o wokismo. Os franceses vão votar em quem lhes promete o respeito pela sua identidade. Nada disso é xenófobo.
Segurança: já há muitos sítios em França onde sair à noite é um risco, onde pais não podem deixar os seus filhos sozinhos na rua. Há muitos bairros totalmente controlados por traficantes, onde a polícia não entra. Há muitos criminosos fora das prisões ou que controlam as suas redes dentro das prisões sem entraves. Esta realidade é pior para os luso-descendentes, porque muitos deles têm o essencial do seu património numa casa suburbana, em bairros outrora populares e pacatos e por isso começam a sentir insegurança. Sim, esta insegurança está ligada a uma certa imigração, porque parte da imigração é suportada por redes mafiosas que não são combatidas. Macron assobia para o lado. Não é xenofobia querer viver em segurança.
Autoridade: é muito difícil dar uma aula hoje, em França, especialmente se for de História. Vimos em vários casos envolvendo professores que a autoridade não os protege. Os polícias são provocados pelos delinquentes, as associações financiadas pelo Estado protegem os traficantes de seres humanos, os presidentes de câmara não conseguem recusar casamentos, obviamente fraudulentos. O conselho constitucional desfaz as decisões da Assembleia. Macron não tem rumo. Só lhe interessa a fotografia. Querer paz e autoridade, também não é xenofobia.
Se muitos franceses vão votar RN, se a chamada “frente republicana” caiu quase totalmente, se pessoas razoáveis - como penso ser, e tenho a sorte de ter um candidato de centro-direita para apoiar - querem antes de tudo o fim do Macronismo, é porque enquanto não existe uma vontade absolutamente determinada de ouvir os franceses e responder sem rodeio às suas preocupações, a França vai continuar a afundar-se. Já temos mais dívida vs PIB que Portugal, e já pagamos juros superiores. Dos PIGS’, passou-se para os FIGS’. Para a Europa, para Portugal, uma França enfraquecida é muito mau negócio. Enquanto Macron tiver algum suporte, o figo vai continuar a apodrecer.
Representante eleito dos Franceses em Portugal