O bom, o mau e o feio da semana política
A ação político-partidária tem duas regras de ouro. A primeira é a da consistência entre o que se diz e o que se faz, sobretudo quando se trata de dirigentes partidários e de titulares de órgãos políticos. A segunda é a da preservação do interesse nacional de longo prazo, mesmo que tal signifique um trabalho silencioso escondido por trás das escaramuças do debate quotidiano. Lamentavelmente, estas regras são violadas não poucas vezes. Felizmente, são cumpridas não poucas vezes. Na última semana tivemos evidências de ambas.
Começando pelo melhor, que é o também o mais importante. O fecho das contas públicas do terceiro trimestre do ano passado, agora conhecido, revelou um triplo sucesso de Portugal no que se refere à dívida pública, na Zona Euro.
Na comparação em cadeia, isto é, face ao trimestre precedente, o país protagonizou a maior descida em percentagem do PIB. Já em termos homólogos, comparando com o mesmo período do ano anterior, registou a segunda maior descida. E no que respeita ao valor absoluto da dívida, logrou reduzir o stock quer em cadeia, quer em termos homólogos, algo que mais nenhum país conseguiu.
Esta trajetória consistente de redução da dívida, que vem da legislatura anterior e se mantém na atual, mostra que os dois maiores partidos, PSD e PS, se mantêm alinhados naquele que é provavelmente o mais estrutural objetivo em termos de interesse nacional de longo prazo.
Apesar das dificuldades como o pós-pandemia, a inflação, a crise energética e as guerras, o desígnio dos orçamentos superavitários e da consequente redução da dívida é uma espécie de revolução silenciosa que importa manter e saudar. Se é verdade que foi importante descer dos 100% do PIB no final de 2023, é também assinalável ter fechado o terceiro trimestre de 2024 nos 97,5%.
Deste modo, Portugal vai-se afastando paulatinamente do inferno dos juros altos, com rácios de dívida melhores do que os de Espanha, Bélgica, França, Itália e Grécia.
Apesar do ruído em torno dos Orçamentos, com propostas de pôr os cabelos em pé, sobretudo oriundas dos extremos, há que reconhecer que vai imperando o princípio da ponderação e da defesa do interesse nacional. A responsabilidade orçamental que PSD e PS entregam aos eleitores é um património que devem manter presente aquando das suas escolhas. Foi o bom da semana.
Agora, a regra da (in)consistência entre palavra e ação. O Bloco de Esquerda, que berra a defesa das mulheres e dos desprotegidos, resolveu despedir cinco das suas funcionárias, que coincidentemente eram recém-mães e ainda amamentavam.
Foi mau, muito mau.
E para não se ficar atrás, o Chega, que grita a sua condição de “pessoas de bem” e promete acabar com os bandidos, descobre que nas suas fileiras milita um deputado da República que anda a roubar malas no aeroporto, levando-as depois, mais ao seu conteúdo, para o gabinete que ocupa na casa da democracia.
Foi feio, muito feio.
Professor catedrático