O “apagão” do TikTok nos EUA durou 24 horas. A simples declaração de intenções de Donald Trump, ainda antes de tomar posse como 47.º presidente dos EUA, de suspender a proibição da rede social chinesa foi o suficiente para que os serviços fossem reestabelecidos, e atirar para as urtigas as enormes preocupações de segurança da Administração de Joe Biden - que obteve, no Senado, em abril do ano passado, uma enorme aprovação das duas bancadas: 79 votos a favor e apenas 18 contra.Todos estes responsáveis consideraram de enorme importância estratégica para os EUA que a ByteDance (a dona do TikTok) vendesse a sua participação na rede social, sob pena de ser impedida de operar naquele país, privando assim os cerca de 170 milhões de utilizadores deste serviço de partilha de vídeos.Sejamos claros: as profundas ligações dos acionistas da ByteDance ao governo chinês levam a que haja legítimas preocupações de como os dados capturados pela app são utilizados - e não se trata apenas da possibilidade de usar a plataforma para manipular a opinião dos seus utilizadores. Basta pensarmos no risco de segurança que é ir parar às mãos de um país “adversário” a base de dados de “nome de utilizador/password” de 170 milhões de norte-americanos - quando ainda por cima a maioria das pessoas repete a “pass” em vários sistemas.Mas a proibição de uma plataforma com a popularidade mundial do TikTok num país que tem a liberdade de expressão como um direito fundamental é algo que não pode, nunca, ser feito de ânimo leve. Pior! Esta rede social suporta cerca de sete milhões de empresas nos EUA, gerando 24 mil milhões de dólares/ano em volume de negócio e dando emprego a 200 mil pessoas. Só estes números, para alguém como Donald Trump, mais do que justificam a sua decisão de reverter a ordem de encerramento.E quanto a nós, na União Europeia? No meio de toda a regulação de Bruxelas para os (ainda chamados...) “novos media”, a grande preocupação é se os algoritmos da publicidade destinada aos mais jovens cumprem os requisitos da lei. Houve dúvidas, abriu-se processo, cartas para lá, garantias para cá... A ByteDance diz que ajustou o algoritmo... As autoridades comunitárias prometem “escrutinar as práticas” da plataforma. Importante é, disseram, segundo a Reuters, que a empresa chinesa forneça uma “base de dados compreensiva” dos anunciantes para que “os investigadores possam avaliar o nível de risco”. Ah, e que se cumpram as normas de que os servidores estejam fisicamente localizados em espaço comunitário... Porque, depois, os dados não saem de lá, é isso?Mais uma vez, neste concurso de ridicularia que o Ocidente inventa, quem se fica a rir é Pequim. Editor do Diário de Notícias