Northvolt perdeu a pena, não há mal que lhe não venha

Publicado a
Atualizado a

O descalabro financeiro da Northvolt não para: (i) despedimento de 1.600 trabalhadores: (ii) adiamento sine die dos projetos de gigafábricas na Alemanha, no Canadá, na Suécia; (iii) colocação à venda da unidade na Polónia e da unidade em Borlänge de fabricação de materiais para cátodos (dramática para a Aurora Lithium, uma parceria com a Galp, que perde um importante offtaker); (iv) encerramento das áreas de investigação em S. Francisco; (v) pedido de falência da Northvolt Ett Expansion AB (que procedia à expansão da única gigafábrica da Northvolt, em Skellefteå); (vi) acusações de graves violações na construção da Northvolt Ett, sem os licenciamentos exigidos por lei; (vii) após a BMW, a Scania procura outros fornecedores de baterias; (viii) representante do maior sócio - a VW - demitiu-se do conselho de administração; (ix) as autoridades suecas promoveram acusações contra a Northvolt por emprego de trabalhadores ilegais e estará prestes a ser notificada pelo MP sueco de uma acusação de “suspeita de homicídio culposo” pelo menos no caso da morte de um trabalhador, sendo que há várias situações de estranhos decessos de trabalhadores; (x) os média dão conta de um aumento recorde de falências na Suécia em outubro (821 vs. 576 na última década) impulsionado pela crise da Northvolt; (xi) a Volvo passou a controlar o projeto conjunto NOVO Energy (uma nova fábrica de baterias no litoral da Suécia), por incumprimento pela Northvolt de obrigações financeiras; o propósito da Volvo parece ser ficar com a parte da Northvolt no projeto.

Os receios de incumprimento de obrigações financeiras atingiram tal dimensão que a Northvolt se viu obrigada a declarar que a empresa [contrariamente a rumores] conseguiu cumprir um prazo para pagamento de impostos devidos, no valor de 25 milhões de euros. Notícias recentes davam nota da iminente finalização de um “pacote de resgate” que permitiria à empresa levantar 277 milhões de euros, mas o Financial Times (FT) diz que este financiamento intercalar de recurso falhou.

A pretensão de criar a bateria mais verde do mundo, acompanhada de bom marketing e de um sólido apoio do Governo sueco, facilitou o levantamento de enormes fundos e conduziu a uma ambição desmedida da empresa, que almejou ocupar todas as áreas da cadeia de valor do armazenamento elétrico. Um misto de falta de aptidão técnica e falta de capacidade de gestão pode conduzir a empresa à falência; o FT noticiava (dia 17 de novembro) que um dos principais investidores da Northvolt acha provável uma insolvência [esta] semana e já tinha reavaliado o valor do seu investimento como zero.

O descalabro da Northvolt vai ter efeitos terríveis na cadeia de valor europeia do armazenamento elétrico, desde logo tornando mais difícil levar a cabo dezenas de projetos de gigafábricas europeias.

www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt