Não há luz ao fundo do túnel?

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As últimas semanas não têm sido fáceis para quem acredita na moderação e no diálogo, nas instituições que suportam as democracias liberais, no equilíbrio entre a liberdade individual e a igualdade entre as pessoas, na economia social de mercado e nas organizações multilaterais.

Nas eleições para o Parlamento Europeu, suspirámos de alívio porque o centro político - que tem garantido o processo responsável pelo mais longo períodos de paz e prosperidade na história do continente - continua maioritário, escolhendo ignorar que os partidos que recusam as bases e objetivos da integração europeia cresceram significativamente e só não são mais eficazes porque estão divididos. Agora, vemos os esforços do primeiro-ministro húngaro para coordenar esses partidos, o que poderá alterar os equilíbrios do Parlamento Europeu e da UE.

Na França, depois de um resultado francamente mau nas Eleições Europeia, assistimos à decisão do presidente Macron de convocar eleições antecipadas, numa fuga para a frente que resultou na vitória da Frente Nacional de extrema-direita, seguida pela Frente Popular de extrema-esquerda e pela derrota do partido centrista e moderado, que até domingo passado tinha a maioria dos lugares na Assembleia Nacional.

Nos Estados Unidos acompanhámos com aflição a prestação do presidente Biden no debate televisivo contra o ex-presidente Trump, de tal forma errática (para ser simpático…) que deu origem a uma discussão viva sobre a possibilidade de se substituir o candidato democrático a poucos meses das eleições.

Em Moscovo seguimos os esforços do presidente Putin para romper o isolamento diplomático que resultou da invasão da Ucrânia, numa clara violação da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional, visitando a Coreia do Norte, a Bielorrússia, a China e o Vietname. Acresce ainda o esforço diplomático russo em reforçar ou estabelecer relações diplomáticas com os países da União Africana.

Perante isto, pergunta-se o que estará a falhar na relação entre os defensores da democracia e uma parte crescente das pessoas, para que estas se sintam atraídas por soluções simplistas que apontam invariavelmente o dedo para culpados imaginários? Por que é que deixámos de ser capazes de conversar com quem discordamos e tudo parece resumir-se a insultos e ofensas? Como é que vamos reconstruir as pontes e o diálogo que nos permitirão encontrar as soluções, necessárias, difíceis, para os desafios complexos que temos pela frente? Se o centro político, sensato e moderado, não for capaz de se sentar à mesma mesa, a única luz ao fundo do túnel será a do comboio que avança para atropelar a democracia.

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