Má gestão

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Em Novembro de 2024 escrevi uma crónica sobre as “plataformas” que invadiram a vida escolar e se tornaram um enorme sorvedouro financeiro, nem sempre se percebendo a sua real utilidade. Os cálculos que então apresentei para os custos com a plataforma “oficial” do Ministério da Educação (E360) apontavam para três milhões de euros nos anteriores seis anos, período no qual escolas e autarquias pagaram quase dez milhões em contratos com empresas fornecedoras de serviços concorrentes à dita plataforma.

Na passada semana, ficámos a conhecer uma auditoria do Tribunal de Contas exactamente sobre o desastre financeiro e funcional do Sistema de Gestão Escolar E-360, o qual custou, entre 2016 e 2024, cerca de sete milhões de euros de dinheiros públicos. Apesar dos investimentos sucessivos na criação, desenvolvimento e implementação do sistema, o seu mau desempenho e crescente desinteresse das escolas pela sua utilização, conduziram a que, em Novembro de 2024, “o IGeFE anunciasse que o E-360 será descontinuado a partir do ano letivo de 2025/2026”.

Ou seja, quem insistiu na utilização do E-360 terá de buscar outra solução, por achar o IGeFE que esta se tornou “obsoleta” (cf p. 5 da auditoria), com os naturais encargos financeiros, até porque nada garante que a nova solução anunciada tenha melhor destino, mesmo apresentando-se como um “novo paradigma”, assente na “Escola Digital”, garantindo-se que este “surge no contexto de soluções técnicas com evolução muito acelerada” (idem).

Muito fica por explicar, desde logo como, em tempo de acusações sobre a “má gestão” do Sistema Educativo, tudo isto parece acontecer sem que alguém seja considerado responsável pelo ocorrido, a começar por quem, no plano político, promoveu e validou as opções tomadas.

Quanto ao “novo paradigma”, não se percebe ao que corresponde. A menos que trate do que se lê no Despacho 9507/2024, ou seja, do objectivo de “adotar um sistema único de identidade de alunos, docentes e outros trabalhadores de apoio à gestão, articulado com o sistema Escola 360, para controlo e perfilagem de acesso à rede e aos sistemas de informação” e “convergir e integrar os sistemas de Informação de Gestão Educativa e generalizar a utilização do sistema Escola 360, tendo em vista um funcionamento mais eficiente e transparente do Sistema Educativo”.

Em Agosto pretendia-se generalizar o sistema que em Novembro foi descontinuado? Nesse mesmo mês, o IGeFE fez um contrato de 821.855 euros (+ IVA) para a “aquisição de serviços para desenvolvimento da integração dos sistemas de informação de Gestão Educativa ao nível da gestão da rede das escolas e Escola 360, gestão do ciclo de vida do aluno”. Em Fevereiro de 2025 é a vez de um contrato na ordem dos 2 milhões de euros para “aquisição de serviços de desenvolvimento aplicacional para modernização/atualização da plataforma SIGO”.

Afinal, onde andam a enterrar o nosso dinheiro?

Professor do Ensino Básico.

Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

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