Mudança de Ciclo
O momento que vivemos parece marcado por uma certa vertigem de mudança à escala global.
Vertigem que parece querer ter uma dimensão planetária. Veja-se o que aconteceu há dois dias na habitualmente tranquila Coreia do Sul!
Mas, sem pensarmos nos acontecimentos da semana, atentemos no seguinte.
Em Portugal viveremos, a partir de janeiro, com um governo que só verdadeiramente a partir daí vai governar com plena responsabilidade.
Cumprindo o seu próprio orçamento e, no final, prestando contas por isso. É um desafio para uma família política que há uma década não exercia o poder, em Portugal.
Ainda em Portugal, o país político, mais que o país real, parece querer antecipar o novo ciclo presidencial, inculcando, uns deliberadamente, outros por ingenuidade, uma certa ideia de presidencialismo, ideia a que a nossa constituição não dá guarida. Espero não vir a ver em Portugal a repetição do que se tem passado em França, isto é, votarmos contra o que não queremos e, não, a favor do candidato com o qual nos identificamos.
Na Europa, ao mesmo tempo que o ciclo da guerra levado a cabo com exércitos parece querer terminar, outras batalhas espreitam.
O ciclo de instabilidade afirma-se. A França está há quase um ano sem governo efectivo e a Alemanha, depois de vários tropeções, vai para um processo eleitoral sem expectativas de soluções estáveis.
A economia europeia entra, também, num ciclo de estagnação consequente à estagnação da economia alemã e aos assustadores deficit e dívida da França.
A União Europeia entra, também, um novo ciclo.
Ciclo que, neste início, parece marcado por uma menor capacidade dos líderes europeus continuarem a afirmar que em conjunto são mais fortes. Parece existir, na velha Europa, um ressurgir de nacionalismos e, pior do que isso, a desvalorização da Europa enquanto projecto político de paz, liberdade e de desenvolvimento humano. A par de uma maioria de governo europeu de composição cada vez menor. A actual comissão europeia foi a que recolheu menos votos, desde que é votada.
Do mesmo passo os Estados Unidos da América entram num período simultaneamente de incertezas e de certezas, sendo que umas e outras são preocupantes.
À incerteza política decorrente dos novos relacionamentos com a Rússia e com a China, justapõe-se a certeza de uma agenda política marcada por afirmações soberanistas e isolacionistas dificilmente compatíveis com este mundo em que vivemos.
O desafio a que temos de responder é o de saber se sabemos o que queremos e, sobretudo, para onde queremos ir.
Cuido que não, e que vivemos distraídos entre whatsapps, Tik Toks, redes X, abaixo-assinados online e similares. Cada um em sua casa pensando que participa nos desafios colectivos.
Comunicamos muito, pensamos pouco e não agimos.