Moedas e o seu triste autobloqueio

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Logo no primeiro orçamento que entregou - e que acabou por retirar de votação, quando o PS lhe demonstrou um erro de milhões de euros -, Carlos Moedas testou aquela que viria a ser a sua mais coerente estratégia política à frente da Câmara de Lisboa: a vitimização.

À saída da reunião do Orçamento para 2022, os vereadores do PS ficaram a saber, pelas notícias, que tinham “chumbado” um Orçamento que nem sequer tinha sido votado - e que já tinham anunciado publicamente que iriam viabilizar. Era a máquina de propaganda de Moedas a dar os primeiros passos. Na verdade, o PS absteve-se nos três primeiros orçamentos e o quarto não será exceção. Não porque se concorde com as contas, retrocesso em várias áreas e a falta de ambição evidente, mas porque o PS sabe bem que a sua responsabilidade é para com a cidade e os lisboetas.

Carlos Moedas, que ganhou acidentalmente a maior autarquia do país, tem o caminho fechado para o cargo que sempre quis, porque o seu partido acha que ele é mais útil numa Câmara, onde não faz sombra à liderança e se pode desgastar com a sua própria incompetência. Apesar do “tabu” que mantém sobre a sua recandidatura, a campanha para as Eleições Autárquicas já está na rua, incluindo nos múpis do contrato de publicidade que se queixou de ter herdado dos socialistas e que aproveita agora em benefício próprio, numa lamentável confusão em que os recursos da câmara se vêm utilizados para propaganda partidária e pessoal do seu presidente. Moedas teve de se resignar com o papel de autarca que o PSD quer que tenha, mas nós não temos de o fazer.

Por isso, permitir que Moedas governe a cidade um último ano não é passar um cheque em branco, longe disso. As incoerências e fragilidades que apresenta no seu Orçamento, pomposamente apresentado ao público como o “maior Orçamento Municipal” de Lisboa, tornam o “maior Orçamento” como o mais perigoso. Há algum tempo que alertamos que o equilíbrio financeiro de Lisboa está preso por um fio. A sobrestimação de algumas das principais fontes de receita (como a Derrama e o IMT), a substituição de receita estável por volátil (como a troca do IRS pela Taxa Turística) e a contabilização de transferências pontuais como estruturais (como o PRR), demonstram uma enorme falta de prudência. A variação de um destes fatores pode facilmente pôr em causa este frágil equilíbrio estrutural.

Em novembro, a dívida a fornecedores chegava quase aos 60 milhões de euros (estava nos três milhões quando Moedas tomou posse) e, depois de já ter pedido 130 milhões em dois empréstimos este ano, o presidente quer ainda pedir um novo empréstimo de mais 50 milhões. Um exemplo claro do estado de deterioração a que chegou a tesouraria da CML.

Alguém que herdou cofres cheios depois de anos de boa gestão orçamental e que recebe somas milionárias e irrepetíveis como as do PRR (apesar da execução miserável destes fundos e do desperdício em áreas fundamentais, como a reabilitação de escolas e construção de residências universitárias) não consegue resolver os verdadeiros problemas dos lisboetas. A habitação? Parada. O trânsito? Bloqueado. O lixo? Acumulado na rua.

Esta é uma gestão bloqueada pela incompetência de Moedas e refém da sua propaganda. Ao fim de três anos, continua sem ter nada para mostrar e há uma ausência total de resultados e soluções. É por isso que a Oposição não precisa de bloquear os Orçamentos dos Novos Tempos. Moedas trata disso sozinho.

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