Ministros das Finanças e Clima … onde está Portugal?

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Falar sobre a importância de existirem políticas públicas em prol das alterações climáticas, parece não dar votos. Por isso, em altura de mais uma campanha eleitoral em Portugal, nada se fala das políticas que são necessárias para aumentar a resiliência das populações ao impacte das alterações climáticas. Tendo em conta que já sentimos em Portugal esse impacte com um aumento de temperatura de quase 1,5 imagine-se o que poderá acontecer quando a temperatura aumentar 3C face à era pré-industrial.

Sim, estamos a caminhar para, pelo menos + 3C! Este é já o cenário que bancos como a Morgan Stanley estão a usar nas suas previsões económicas e de desenvolvimentos setoriais.

Atualmente, e ainda sem incluir as consequências de um potencial abrandamento da redução das emissões de Gases com Efeitos de Estufa, a economia mundial está a provocar um aumento da temperatura de +3C no final do século, se nada for drasticamente alterado. Aconselho a verem três vídeos no Youtube da Sky News que mostram o mundo com um aumento de temperatura de +2ºC, +3C e +4C. Neste último cenário, e na última vez em que a temperatura do planeta Terra tinha alcançado esta dimensão, Espanha era um deserto. É disto que estamos a falar: um aumento da temperatura mundial de +3C implica em Portugal consequências drásticas à economia, decorrente de perdas de produtividade agrícola, aumento dos fogos, diminuição do turismo, aumento de doenças, mortes, etc. Podemos pensar que estes impactos apenas ocorrem em 2100, mas obviamente que eles ocorrerão de forma crescente já a partir dos dias de hoje, e Portugal consegue já sentir essa evolução.

Será então que o Estado deveria incorporar estes potenciais riscos dentro da sua política fiscal e cenários macroeconómicos? Não faria sentido que esta discussão fosse central? Mesmo que em programas de TV às 2 da manhã?

No encontro de Primavera do Banco Mundial e FMI que ocorreu na semana passada em Washington, a Coligação dos Ministros das Finanças para o Clima (à qual Portugal aderiu em 2018) emitiu um comunicado assumindo que “reconhecem que os países de todo o mundo enfrentam desafios importantes relacionados com a inflação, com os níveis de endividamento, com a energia, com o comércio, com o crescimento económico e a com segurança internacional. Além disso, os impactos das alterações climáticas, os fenómenos meteorológicos extremos e a perda de biodiversidade em todo o mundo já se fazem sentir e ameaçam diretamente a resiliência macroeconómica, a sustentabilidade orçamental e o crescimento económico. É urgente reforçar a resiliência das nossas economias e sociedades e melhorar os mecanismos de apoio internacional. Pode ser difícil implementar medidas climáticas ambiciosas e alcançar uma prosperidade económica sustentada nestas condições. No entanto, uma ação climática eficaz e eficiente é uma necessidade económica. Os custos macroeconómicos da inação superam substancialmente os de uma transição climática ordenada e justa, especialmente a longo prazo. A materialização dos riscos climáticos pode ter consequências fiscais importantes, que os ministérios das Finanças devem então gerir”.

Este comunicado vai mais longe ao assumir que como Ministros das Finanças “Apoiamos ações de adaptação e mitigação para reduzir os riscos climáticos macro críticos, uma vez que eles servem como catalisadores para abrir novos mercados e setores, fortalecer a segurança energética e impulsionar novas fontes de desenvolvimento económico e prosperidade. Enfatizamos a importância de mobilizar financiamento e investimentos públicos e privados, tanto a nível nacional como internacional, juntamente com o reforço das capacidades e o acesso à tecnologia, para fortalecer a resiliência climática e impulsionar o crescimento global sustentável e inclusivo”.

Onde está Portugal em toda esta discussão? O que pensa o nosso Ministro das Finanças sobre isto? O atual e o futuro? Eu não sei. Nunca ouvi nada a este respeito, mas penso ser do interesse de toda a população.

PhD, CEO da Systemic

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