Marrocos: 25 anos de “gestão de silêncios e de adquiridos”!

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Marrocos está em festa 25 anos após a entronização de Mohamed VI (MVI) enquanto Rei de Marrocos. Há um quarto de século quando perguntaram ao actual monarca qual foi a última recomendação de se pai, disse, “il faut durer!”. MVI dura há 25 anos e coloca-se numa posição interessante para alcançar os 38 anos de reinado de seu pai, para depois passar a mensagem do avô ao neto!

O momento mais alto da passada terça-feira, veio de fora, enquanto acha a juntar à fogueira da celebração. O Presidente Macron, na sua mensagem de felicitações à “âncora” que Rabat representa para o Eliseu, reforçou o que já tinha dito, relativamente à prioridade marroquina, a Questão Sahraoui! “(…) para a França a autonomia (do Sahara) sob soberania marroquina é o enquadramento dentro do qual esta questão deverá ser resolvida. O nosso apoio ao plano de autonomia proposto por Marrocos em 2007 é claro e constante”.

Esta prioridade da política interna e externa de Marrocos, avançou nos últimos 25 anos, discretamente e aproveitando o que “os ventos da nova História” trariam, com o fim da União Soviética, da bipolaridade e a miragem de um mundo de povos colaborantes. O Palácio e a diplomacia marroquina perceberam isto e mexeram-se de acordo com a corrente que “levaria a água ao seu moinho”.

Alguém se recorda das “Negociações de Manhasset” de 2007/08? Alguma das rondas? Houve quatro e nem eu me lembro das mesmas! Aqui fica um silêncio bem gerido, apesar do(s) impasse(s), sempre favoráveis a Marrocos, que já pensava segundo o novo paradigma pós-guerra fria.

Mais recentemente, Gdim Izik (2010) e Guerguerat (2020) foram momentos de apresentação de adquiridos, interna e externamente. Às interferências, o regime responde com a força necessária, restabelece a ordem e apresenta o(s) dado(s) ao público. Nos antípodas desta leitura de um mundo pós bipolaridade, de cooperação/resolução, a velha-guarda sahraoui optou pelo vocabulário antigo e volta à guerra, como se não tivéssemos mudado de século, como se não houvessem novas prospectivas e soluções de compromisso.

A proposta marroquina de autonomia para as Províncias do Sul é séria e sólida. Porquê? Porque é o mal menor para ambas as partes após um “jogo de monopólio” que dura há quase meio século. Este prolongamento do conflito tem equivalente na acumulação de frustrações e recalcamentos que serão sempre pedras na engrenagem das negociações. O plano de autonomia não resolve, mas mitiga, permite o assentar da poeira e o regresso a um diálogo, também ele dependente da mudança de gerações em curso. A vitória marroquina está aqui, ter substituído a guerra armada pela “guerra diplomática”, campo de batalha no qual os marroquinos se têm demonstrado exímios dançarinos ao som do novo batuque que se iniciou há 25 anos em Rabat!

“Mabrook Sidna, Dim’Al-Magrib”!

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