Maria Teresa Horta: a nossa dívida não acaba
Foi com a Maria Teresa Horta que aprendi a ser feminista. Não serei a única. Foi com ela que mergulhei na poesia e na ficção numa perspetiva feminina. Foi minha amiga durante mais de duas décadas.
Nunca nos largámos. Interessava-se sobre as minhas coisas, eu sobre as dela e passámos a ter um registo de confidência único.
Escrever a sua biografia era uma tarefa estranha por ser uma homenagem, por não querer escrever um elogio imenso, por ela estar viva e colaborar e responder a todas as perguntas.
Nunca me disse “a isso não respondo”. Deixou nas minhas mãos a fronteira entre a confidência o que poderia ser público. Confiou em mim de tal maneira que não leu o livro antes de ser publicado, fez um ano em março.
Maria Teresa Horta deixou-nos uma obra imensa que deveremos honrar e revisitar. Deixou-nos uma posição feminista que, ainda agora, é urgente manter. Deixou-nos boas ideias sobre jornalismo. Era uma mulher singular.
Não era consensual e alimentava-se do conflito, nunca o escondeu. Dizia-me, sou uma chata, não me calo. Ainda bem que não o fez. O que lhe devemos é tanto que não cabe num único texto.
Portugal deveria ter sido mais generoso com a Teresa. Ela deveria ter uma lista imensa de prémios, não tem. Deveria ter ganhado o Prémio Camões. Deveria… tanto que lhe devemos e já não vamos a tempo de cumprir.
* Jornalista e escritora, autora da biografia de Maria Teresa Horta “A Desobediente”