Madeira, Montenegro e a maturidade democrática dos portugueses

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As eleições regionais da Madeira não foram apenas um episódio local. Foram um espelho - talvez até um sinal - de algo maior que está a acontecer na política portuguesa: os eleitores estão a recusar a instabilidade, os jogos de bastidores e os pactos de conveniência.

Foram realizadas num contexto sensível e marcado por tensão mediática, surpreendendo alguns (os da bolha) pela clareza do seu desfecho: Miguel Albuquerque saiu reforçado em votos, e com melhores condições para governar.

Este resultado representa uma leitura mais ampla sobre aquilo que os eleitores valorizam hoje: liderança firme, governação com rumo e estabilidade institucional.

A proximidade temporal com as eleições legislativas permite um exercício comparativo particularmente interessante. Luís Montenegro venceu em 2024 e formou governo sem maioria absoluta, com o CDS-PP, num quadro parlamentar fragmentado, muito à semelhança da Madeira.

Desde então, tem procurado liderar com sentido de Estado, recusando cedências populistas, mesmo sem os instrumentos de maioria que facilitariam a ação governativa, na expectativa de que a maturidade democrática permitisse estabilidade legislativa.

Porém, o que se assistiu foi à formação de uma coligação negativa no Parlamento, juntando PS, BE, PCP, Livre e até o Chega, com um único objetivo: travar o governo. Não se apresentou uma alternativa clara, nem uma proposta política coerente - apenas a vontade de impedir quem venceu.

A lição da Madeira é clara: os portugueses não querem essa forma de fazer política. Não querem bloqueios artificiais, nem alianças incoerentes que só servem para adiar soluções. Querem governabilidade, previsibilidade e responsabilidade, valorizando mais a capacidade de governar do que o ruído mediático ou os casos do momento.

O que está hoje em causa no país não é apenas quem governa - é como se governa. É uma escolha entre dois modelos de fazer política: um baseado na construção, na negociação e na estabilidade; outro sustentado em alianças improvisadas, calculismos imediatos e desgaste mediático.

A confiança que legitima a ação política não nasce da soma de votos no hemiciclo, mas da ligação entre eleitos e eleitores - e essa confiança constrói-se com clareza de propósito, com proximidade e com respeito pelo mandato democrático.

A crise que vivemos não é apenas institucional - é também uma crise de confiança nas intenções da política. E só com liderança firme é possível superá-la.

Luís Montenegro não cedeu à pressão de alianças fáceis, não entrou em jogos populistas, e tem procurado manter um rumo de seriedade institucional. Isso não é fraqueza - é maturidade. E, como vimos na Madeira, essa maturidade é valorizada nas urnas.

A estabilidade é hoje um bem escasso - e, por isso mesmo, ainda mais valioso. Cabe-nos protegê-la. E cabe àqueles que foram eleitos com mandato claro, estarem à altura dessa confiança, e não desistirem do país que lhes confiou essa responsabilidade.

Porque quando há liderança com coragem, e cidadania com discernimento, Portugal não só resiste às crises artificiais, Portugal avança.

Presidente da Concelhia do PSD em Lisboa

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