Levar o telemóvel para a cama = maior risco de aliciamento sexual online
O risco de aliciamento sexual online de crianças e jovens é maior nas primeiras três horas após irem para a cama. Quem o afirma não sou eu. Este dado tão relevante foi partilhado recentemente pelo Diretor Nacional Adjunto da Polícia Judiciária, Dr. Carlos Farinha, numa conferência em Lisboa.
Sabemos que o ambiente digital é uma porta escancarada para o mundo e que, hoje, o que ele tem de melhor – e de pior – chega cada vez mais longe e mais depressa. E é neste contexto que se enquadra a criminalidade sexual contra crianças e jovens que, apesar de continuar a ser cometida, sobretudo, num contexto de familiaridade e conhecimento, cada vez mais ocorre no mundo digital. As redes sociais, os videojogos e as mais diversas plataformas de comunicação são, frequentemente, a porta de entrada para interações que se revelam perigosas e que envolvem, por exemplo, situações de aliciamento sexual, chantagem e extorsão, cyberbullying ou, ainda, os chamados fakenudes (nudes falsos).
Sabemos também que a literacia digital dos pais fica muitas vezes aquém da dos seus filhos, acabando por delegar no controlo parental a responsabilidade em manter os mais novos em segurança. A má notícia é que nenhum controlo parental consegue substituir, de forma totalmente eficaz, uma adequada comunicação e supervisão parental, pautada pelo diálogo e reflexão conjunta, informando e, ao mesmo tempo, ajudando as crianças e jovens a desenvolver competências para saberem reconhecer e lidar com uma situação de risco ou perigo.
O que eu não sabia – e aqui reconheço a minha ignorância – é que as crianças e jovens correm um risco acrescido de serem vítimas de criminalidade sexual online, sensivelmente, nas três primeiras horas depois de irem para a cama. O que faz todo o sentido e é coerente com aqueles que são os hábitos de muitos deles – deitarem-se com o telemóvel para jogar ou ouvir música, ver vídeos ou interagir com outras pessoas. O risco aumenta, também, porque o quarto é, desejavelmente, um espaço de maior privacidade e intimidade, sendo que muitos pais acabam por acreditar que os filhos dormem quando, em boa verdade, escondem o écran debaixo dos lençóis.
Ora, o que fazer então com este dado tão importante e que, segundo o que foi dito, reflete os dados da casuística da PJ?
Acredito que conhecer este dado pode ajudar os pais e cuidadores a estarem ainda mais atentos durante esse período de tempo, logo após os mais novos irem para a cama. Do mesmo modo, pode também ajudar a definir regras e limites mais claros, que permitam que o tempo antes de dormir possa ser ocupado com alguma atividade prazerosa que não envolva, necessariamente, o recurso às tecnologias. Mas acredito, particularmente, que esta informação possa auxiliar os pais a reconhecerem a importância da prevenção. Mais do que remediar, vamos todos tentar atuar antes da ocorrência do problema.
Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal