Legislativas 2025: vira o disco e toca o mesmo?

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Já não há volta a dar: Portugal vai de novo para eleições e os protagonistas serão exatamente os mesmos das Legislativas de 10 de março de 2024. Mas será caso para dizer que vira o disco e toca o mesmo? Um ponto de situação, antes da campanha, que poderá, de facto, influenciar a imagem que os eleitores vão reter dos líderes políticos.

PSD/CDS - Em jogo, para Luís Montenegro, está não só a continuidade no poder como o seu futuro político. Ao insistir na moção de confiança – que não retirou de votação mesmo após ter tentado, sem sucesso, negociar com o PS prazos mais expeditos para a CPI aos negócios da Spinumviva (algo que até esta terça-feira o PSD recusava) –, colocou nas mãos dos eleitores um julgamento que vai para além da sua capacidade para governar. Montenegro sabe que os portugueses o vão avaliar pessoalmente e dizer se, perante as explicações que deu sobre os negócios familiares, tem margem para governar de forma livre e eticamente responsável. Se ganhar tem um voto de confiança; perdendo fica colado à imagem de um político que cedeu a outros interesses, pessoais e empresariais, que não os do país.

PS - Pela segunda vez, Pedro Nuno Santos concorre às Legislativas em resultado de uma crise política – primeiro após a saída de António Costa, e agora com a queda do Governo da AD. Nesse intervalo, mostrou dificuldade em identificar uma causa mobilizadora que sintonize o partido e o país em torno da sua liderança. Mesmo ganhando as eleições, tudo indica que no Parlamento permaneça uma maioria de direita. Que, se assim o entender, até poderá optar por, logo à partida, aprovar uma moção de rejeição ao Programa do Governo, ditando a queda prematura de Pedro Nuno Santos (como aconteceu a Passos Coelho em 2015). A governar, fá-lo-á com uma espada sobre a cabeça. E a prazo, sem poder garantir estabilidade ao país.

Chega - As suspeitas em redor de Montenegro, até podem alimentar o tipo de mensagem política que o Chega protagoniza e ajudar a esquecer as suas próprias crises internas. No entanto, após eleger 50 deputados, agarrou-se à imagem do partido de protesto e pouco ou nada fez para trabalhar a de um partido responsável, capaz de captar eleitores mais moderados. Haverá ainda muitos portugueses disponíveis para votar em protesto contra o estado político e social do país, mas o destinatário desses votos continuará a ser o Chega dos números de circo na AR ou irá esse voto dispersar-se?

Iniciativa Liberal - Tem tudo para aguardar serenamente. Já se identificou como possível parceiro da AD para formar Governo (até votou a favor da moção de confiança), mas fará o seu próprio caminho na campanha eleitoral. Pode beneficiar de uma eventual debandada de eleitores do PSD, principalmente se Montenegro se der mal nas ruas. É essa a via mais clara para reforçar o bom resultado de 2024.

BE, PCP, Livre e PAN - Entre conter os danos e lutar pela sobrevivência, a esquerda parlamentar deve encarar as Legislativas com preocupação. A exceção poderá ser o Livre, se vier a confirmar-se uma coligação pré-eleitoral com o PS. Isso resultaria numa espécie de seguro contra todos os riscos que, talvez, seja mesmo de aproveitar.

Editor-executivo do Diário de Notícias

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