Há um ano terminava a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). 365 dias volvidos sobre esse importante momento, é tempo para, de forma séria e adequada, lançar algumas reflexões sobre o evento. O que foi, o que representou para a cidade, o que mudou de lá para cá, ou seja, o que se prometeu e o que se cumpriu..Antes da JMJ, Lisboa era uma “mera” capital Europeia que vivia sob a governação do PS. Assim, em 2019, Portugal viu anunciado na Cidade do Panamá que em 2022 receberia o evento. Devido à pandemia, o mesmo viria a realizar-se apenas em 2023. O tema da Jornada foi: “Maria levantou-se e partiu apressadamente”..Desde aí, começou o envolvimento de vários agentes políticos e não só. Desses, destacam-se autarquias locais, câmaras e assembleias municipais, juntas e assembleias de freguesia, governo central, bem como os agentes económicos, sociais e civis ou, como se costumam designar, as forças vivas da comunidade. O resultado foi notório porque o evento foi abraçado por todos sem exceção, independentemente da sua Fé..Poucos ou nenhuns portugueses deixaram de valorar a realização do evento no nosso país. E, possivelmente, essa valorização deu-se certamente sob vários prismas, como por exemplo: um sentimento de gratidão para com o autarca que permitiu a realização da JMJ em Lisboa; um sentimento de reconhecimento ao autarca que levou a cabo a sua concretização na capital, tal como planeado pelas entidades civis e eclesiásticas que não devem ser olvidadas ou subjugadas..Foi então com essa enorme conjugação de esforços que a Jornada Mundial da Juventude aconteceu em Lisboa, faz hoje um ano. Contudo, qualquer visitante que hoje passe nos locais do evento verificará que da visita de Sua Santidade pouco resta. .Não estão em causa os milhões de euros do erário público investidos na estrutura provisória do Parque Eduardo VII. Tampouco está a verba objeto de um empréstimo por parte do município, inicialmente de 4 milhões de euros, para o famigerado altar palco que afinal se veio a cifrar em 2.9 milhões, uma “pechincha” para os cofres da autarquia..Muitos se recordarão dos queixumes de Carlos Moedas, alegando que a oposição não o queria deixar receber o Papa Francisco. Todavia, foram os votos dessa mesma oposição que viabilizaram a aprovação do tal empréstimo. E fê-lo com mais votos dos que seriam necessários, uma vez que alguns dos deputados municipais que suportavam o executivo faltaram no dia da votação. Desse modo coube à oposição assegurar a realização da Jornada, cumprindo-se um desígnio que passou a nacional. .Sucede que nos 12 meses seguintes, o altar-palco foi desmontado e guardado em parte incerta. No mesmo local realizou-se há pouco tempo a 10ª Edição do Rock in Rio, outro evento adiado por força da pandemia e deslocalizado da Bela Vista para o Parque Tejo. Apesar do aumento da área (em mais de 30.000m2), beneficiou da mesma isenção de taxas para a sua realização, isto é, cerca de 3 milhões de euros..Convém salientar que a isenção supra referida não teve o voto contra da oposição maioritária, nem deveria de ter uma vez que as restantes propostas de isenção de taxas de outros eventos realizados na cidade também não o tiveram. .O que se verificou foi sim a dispensa de receita de vários milhões de euros, quando simultaneamente o executivo recorreu a empréstimos junto da banca comercial (com juros elevados e penalizadores), que perfizeram mais de 155 milhões de euros..De acordo com a posição da CML, eventos desta natureza trazem lucros incomensuráveis à cidade e por isso devem ficar isentos de taxas. Não obstante, fica difícil compreender a necessidade de recurso a empréstimos para a recuperação de escolas e arruamentos em mais de 155 milhões de euros. Tudo isto quando se vive o ano em que foi apresentado o maior orçamento municipal de sempre: mil e trezentos milhões de euros..Como se tais enigmas não bastassem, fica por perceber como é possível que Lisboa tenha chegado ao estado atual: uma cidade que carece de higiene e limpeza urgente e, acima de tudo, após tantas promessas (agora entendidas como falsas), como é que nada aconteceu no local onde se realizou a JMJ.Esta é, no mínimo, uma forma estranha de honrar o local onde esteve o Papa Francisco. Creio que nenhum de nós pensaria que após um ano o Parque Tejo estaria exatamente na mesma. Talvez a realidade tenha sido mais astuta do que as projeções coletivas para o local. Sem sombra de dúvida, Carlos Moedas prometeu e não cumpriu.